• 12 de janeiro de 2017
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Poluição: o que o Brasil deve aprender com a China?

Em meados de 2015 o mundo começou a ficar alarmado com as manchetes de jornais que diziam “Poluição do ar segue alarmante na China” ou “10 Cidades chinesas decretam estado de emergência” ou ainda “passar um dia em Pequim equivale a fumar 40 cigarros”. Além de impressionada, devido aos trabalhos de ecoeficiência, com análises de emissões de carbono, pegada hídrica, gestão de resíduos e energia que tenho realizado junto a grandes empresas no Brasil, não pude deixar de refletir um pouco mais sobre o tema. A frase mais latente em meus pensamentos é de  Sheryl Crow  que diz “O melhor tipo de energia alternativa é aquela que nem sequer é usada.”, mas seria isso possível?



Segundo 3º Relatório Global Global da ONU sobre o assunto, lançado em 2016, “a poluição do ar representa o maior risco ambiental à saúde. Ela é responsável por mais de 3 milhões de mortes prematuras no mundo todos os anos.” O mesmo estudo afirma também que o Brasil não é dos piores países no ranking, mas poderia estar melhor.



Em contraponto, a Conferência das Nações Unidas pelo Clima (COP 21) de 2015 listou o Brasil entre os 10 países mais poluidores do mundo. No estudo Global Top 10 Greenhouse Gas Emitters, o país apareceu como o sétimo maior emissor do mundo. No mesmo período o  Brasil firmou acordo climático bilateral com os Estados Unidos, que incluiu “metas como 20% na inclusão de fontes renováveis na matriz energética brasileira e fim do desmatamento ilegal. Iniciativas para mitigar as mudanças climáticas são fundamentais, uma vez que o país pode deixar de apresentar o bom desempenho na redução de emissões que vinha mostrando até agora.” No entanto, qual será a postura do governo brasileiro frente as novas medidas menos sustentáveis que possivelmente serão propostas pelo novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.



Convenhamos que a problemática não é simples. A energia nas suas mais diversas formas, é indispensável à sobrevivência da espécie humana. E mais do que sobreviver, o homem procurou sempre evoluir, descobrindo fontes e maneiras alternativas de adaptação ao ambiente em que vive e de atendimento às suas necessidades. Como preparar alimentos sem fogão e conservá-los sem usar a geladeira? A lavagem de roupas é muito mais fácil e rápida usando-se máquinas de lavar, a limpeza da casa é mais bem feita com o uso do aspirador. E os meios de transporte, os carros, os ônibus, que tanto facilitam a vida do trabalhador?



Como imaginar uma fábrica dependendo apenas d o trabalho manual dos operários? Ou a abertura de uma estrada sem tratores ou máquinas de terraplanagem? Ou ainda a construção sem guindastes, as siderúrgicas sem fornos e as fazendas sem máquinas agrícolas? Difícil não é mesmo? No entanto o nosso dilema realmente se intensifica quando pensamos que em sua grande maioria as fontes de energias tradicionais como petróleo, carvão mineral e gás natural são poluentes e não-renováveis.



No Brasil, mais de 80% da população vive na zona urbana. A grande maioria desse contingente está na periferia dos grandes centros urbanos, onde as condições de infra-estrutura são deficitárias.  Apesar da grande extensão territorial do país e da abundância de recursos energéticos, há uma grande diversidade regional e uma forte concentração de pessoas e atividades econômicas em regiões com problemas de suprimento energético.



As emissões brasileiras, ao contrário dos líderes do ranking, estão divididas quase igualmente entre os setores de energia, com 469.7 Mt CO₂e, e agricultura, com 444.4 Mt CO₂e. Indústria e resíduos também são fontes de emissão no Brasil.



Lembremos que ao contrário do que acontece em muitos outros países, no Brasil a maior fonte de energia são as hidrelétricas. Embora esse cenário venha mudando, vale lembrar que no Brasil em 1994, as usinas hidrelétricas produziam 91% da energia elétrica do país, o consumo de energia proveniente dessa fonte cresceu ao longo dos anos, com a construção de usinas gigantescas como a de Itaipu e Tucuruí. E quem mais recentemente não acompanhou os impasses de Belo Monte?



Parte significativa dos recursos energéticos está disponível em regiões pouco desenvolvidas e distantes dos grandes centros urbanos, sujeitos a restrições ambientais e movimentos sociais, ambos legítimos. Portanto, é essencial que tenhamos o conhecimento dos recursos energéticos disponíveis, das tecnologias, de como podemos aproveitar e reaproveitar energia e quais são as demandas setoriais e regionais do país.



Na atualidade, entre trancos e barrancos o Brasil tem buscado se destacar positivamente. Segundo o Ministério de Minas e Energia quando considerada a oferta interna de energia brasileira – toda a energia necessária para movimentar a economia – a estimativa para 2016 foi que as renováveis iriam contribuir com 43,5%, indicador superior aos 41,2% verificados em 2015. Nas previsões, a fonte hidráulica destacava-se, elevando sua participação de 64% (2015) para 69,5% (2016) na matriz de oferta de energia elétrica, e de 11,3% para 12,5% na matriz de oferta interna de energia. Até abril de 2016, a oferta hidráulica apresenta crescimento de 7,7%.”



A energia eólica é uma das mais importantes fontes de energia renovável, o que a torna a grande esperança para um futuro promissor do mix energético que atenderá à demanda do Brasil. Pesquisas recentes afirmam que o Brasil tem um potencial técnico viável de geração eólica de 60 mil MW, no fi­nal de 2010 haviam, 1.400 MW instalados – pou­co acima de 2% do potencial eólico do país. Entretanto as oportunidades para o desenvolvimento de projetos de geração a partir de energia eólica são imensas e já começam a ganhar volume significativo. Algumas regiões estão sendo objeto de estudos e me­dições para instalação de parques eólicos as localidades onde o aproveitamento dos ventos é favorável, como toda a costa do Nordeste brasileiro e os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.



O fator de capacidade para os ventos do Brasil chega, em certas localidades, a 45%, enquanto em alguns países que já possuem plantas eólicas instaladas esse índice é inferior a 35%. Outra importante fonte de energia sustentável é a co-geração a partir de resíduos orgânicos. Novas tecnologias de co-geração tornaram o processo 30% mais eficiente do que métodos convencionais. Além disso, a queima de lascas de eucalipto e bagaço de cana-de-açúcar viabiliza a autossuficiência energética para muitas indústrias de setores, como papel e celulose e sucroalcooleiro. E a energia solar, mesmo em pequeníssimas escalas, também tem ganhado destaque.



Não podemos nem devemos repetir os caminhos da China. Nesse sentido, existe a necessidade urgente de questionarmos e revermos os principais fatores que contribuem para a crescente demanda por energia, com destaque para as atividades econômicas, o sistema de urbanização e o estilo de vida. Afinal, somente através de mudanças substanciais nessas áreas nos permitirão uma maior utilização de tecnologias mais limpas e fontes renováveis, hoje ainda insuficientes e/ou não tão eficientes para atenderem nossos altos padrões de consumo, dado que ainda existem limitantes técnicos e/ou econômicos para sua maior disseminação.



Os desafios para continuar expandindo o setor energético com menores efeitos aos Quatro Princípios de Sustentabilidade (biodiversidade, solos vivos, cadeias alimentares, Ciclos biogeoquímicos) são grandes, sabendo-se que é praticamente impossível eliminar totalmente os impactos, para qualquer que seja o sistema energético. Entretanto, existem alternativas diferenciadas que se destacam especialmente por não liberar (ou liberar pouco) gases ou resíduos que contribuem para o aquecimento global na produção e/ou consumo, as chamadas “energias limpas”. É fundamental termos um maior compromisso e esforço por parte dos setores público e privado para trilhar um caminho mais sustentável. (#Envolverde)



Liliane Rocha é diretora Executiva da empresa Gestão Kairós (www.gestaokairos.com.br), mestranda em Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Extensão de Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. Gestora com 11 anos de experiência na área de Responsabilidade Social tendo trabalhado em empresas de grande porte – tais como Philips, Banco Real-Santander, Walmart e Grupo Votorantim. Escreve mensalmente para a Envolverde sobre Diversidade. 


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