• 08 de dezembro de 2011
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Poluição do ar fecha aeroportos e causa alarme na China

Uma densa neblina provocou o cancelamento ou atraso de centenas de voos em Beijing e a aquisição de centenas de máscaras de oxigênio por temor da contaminação atmosférica. A situação se repetiu em pelo menos nove províncias, desde Shangdong, no noroeste, até Gansu, no noroeste, envoltas em uma neblina que, em muitos casos, paralisou o tráfego por completo como ocorreu comigo que chegou à antiga capital chinesa, Xian, com um dia de atraso.

Especialistas em saúde disseram à imprensa local que sob as atuais condições convinha que as pessoas “ficassem em suas casas e quem tivesse que sair que usasse as máscaras respiratórias”. Em vários meios de comunicação essa advertência estava acompanhada de uma dura crítica aos métodos “antiquados” de medição de contaminação utilizados pelo governo.

Em muitas ruas, a visibilidade era tão escassa que lembrava a mítica neblina londrina do século XIX e boa parte do XX, hoje inexistente em Londres, ainda que reencarnada neste “novo milagre” da revolução industrial que é a China. O tema é debatido há algum tempo pelo governo, os meios de comunicação e os ativíssimos microblogs. Uma clara medida da preocupação pública é que se vê cada vez com mais frequência gente com máscaras nas ruas das grandes cidades do país, seja Beijing ou Urumqi, remota capital de Xingjian, no noroeste do país. Uma empresa especializada na venda de máscaras de oxigênio pela internet, Panfeng Household Specials, vendeu segunda-feira mais de 300 unidades quando, normalmente, só vende uma por dia.

O Escritório de Proteção Ambiental de Beinjing tentou acalmar a tempestade assinalando que a medição oficial indica que só se passou o umbral do perigo ambiental pela sétima vez no ano, uma vez acima do considerado normal. O problema é que seu critério de medição de pureza ambiental se baseia na presença de partículas de 10 micrômetros e foi estabelecido em 1982 quando recém começava o “milagre chinês”.

Uma medição da embaixada estadunidense, citada pelo diário oficial chinês em inglês “Global Times”, que se baseia na concentração de partículas de 2,5 micrômetros, assinalou que a contaminação na capital era “perigosa” para a saúde humana.

Segundo disse ao jornal chinês, o diretor do Instituto de Meio Meio Ambiente, Ma Jun, estas partículas podem penetrar com facilidade os pulmões e a corrente sanguínea, causando sérias enfermidades pulmonares e cardiovasculares. “As emissões industriais, as de veículos e de uso doméstico são fontes destas partículas. São difíceis de combater e permanecem muito tempo na atmosfera”, indicou Ma Jun.

No serviço de microblogs mais importante da China, Sina Weibo, esse foi o tema mais debatido com quatro milhões de mensagens desde que começou a neblina no último domingo.

Apesar da pressão pública, o Ministério de Recursos Naturais e Meio Ambiente, que recentemente adotou a medição mais sofisticada de 2,5 micrômetros em suas estatísticas, não divulgou ainda seus próprios resultados. Em um país que vem crescendo há duas décadas a mais de 10% abundam as pressões e os interesses cruzados.

Segundo o diretor da Faculdade de Ciências de Meio Ambiente de Pequim, Zhang Yuanhang, se a China adotar o critério dos 2,5 micrômetros, somente cerca de 20% de duas cidades passaria pela prova da qualidade do ar. Na atual medição, 80% são aprovadas. O atual governo assinalou que o tema ambiental é prioritário e no pacote de estímulo que se seguiu à crise de 2008 teve um lugar destacado no investimento estatal.

Em 2009, a China investiu quase 35 bilhões de dólares em energia limpa convertendo-se em líder mundial deste setor e produtor máximo de turbinas de ar e painéis solares. O Banco Mundial indicou que é um dos poucos países que “aumentou sua área florestal e reduziu seu nível de contaminação”. Considerando o que está ocorrendo nestes dias e a voracidade do crescimento industrial chinês, restam vários capítulos pela frente para evitar uma repetição dessa neblina que impede a visão a dois metros de distância.

Autor: Marcelo Justo

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