• 18 de maio de 2023
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Poluição dos Oceanos

Quantidade de plásticos descartados nos Oceanos vai acelerar até 2040


Depois de quase 20 anos em discussão, com negociações que envolveram mais de 100 países, um acordo histórico foi assinado na ONU para proteger a vida nos oceanos. Assinado no dia 4 de março de 2023, o tratado unificado entre os membros das Nações Unidas que vai aumentar de 1,2% para 30% as áreas de proteção contra pesca, mineração e tráfego marinho. Para começar a valer, o acordo deve ser analisado por juristas e traduzido para 6 os seis idiomas da ONU.
Para gerenciar a conservação da biodiversidade marinha, um novo órgão será criado. O foco do tratado está no alto mar, áreas situadas a mais de 370 km da costa e que estão fora das águas pertencentes aos países costeiros. Apesar de não ter “nacionalidade”, o alto mar cobre cerca de 50% da superfície da Terra, ou seja, o novo tratado vai proteger metade da superfície terrestre.
Especialistas explicam que as leis atuais não são claras e prejudicam tanto o ambiente marinho quanto empresas e pessoas que dependem destas atividades. Um dos objetivos do tratado é proteger as migrações anuais de baleias, golfinhos, tartarugas e peixes de atividades comerciais. Dados da União Internacional para Conservação da Natureza, revelam que 10% das espécies marinhas estão ameaçadas de extinção. As causas vão desde as mudanças climáticas, a poluição das águas, a pesca predatória e ilegal e o tráfego de embarcações e a mineração entra para a lista de riscos para a vida marinha.
O décimo quarto Objetivo Sustentável da ONU, denominado de “Vida na Água”, tem como foco conservar oceanos, mares e recursos marinhos para seu desenvolvimento sustentável. Os oceanos ocupam ¾ da superfície terrestre e representam 97% da água da Terra, além de conterem 200.000 espécies identificadas. O oceano produz no mínimo 50% do oxigênio que respiramos e absorve 25% do gás carbônico que emitimos. Fonte de alimento, energia, lazer e até matéria-prima de compostos medicinais, os oceanos exercem papel fundamental na regulação do clima global, absorvendo CO2 e calor da atmosfera e evitando um aquecimento ainda maior. Através da circulação oceânica, o calor é distribuído dos trópicos para os polos e o fundo do mar, determinando os padrões de chuvas e as temperaturas da superfície, que, por sua vez, influenciam climas regionais. Os mares também circulam nutrientes que alimentam diferentes formas de vida marinha.
O oceano é base de economias e meios de subsistência locais, nacionais e globais. Hoje, cerca de 28% da população mundial vive em regiões costeiras. São mais de dois bilhões de pessoas que dependem direta ou indiretamente dos ecossistemas marinhos, que fornecem aproximadamente 170 milhões de toneladas de frutos do mar por ano, cerca de 15% de toda a proteína consumida pelos seres humanos, de acordo com o Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um Clima sob Mudança (SROCC, na sigla em inglês), produzido pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), instituição que visa auxiliar na formulação de políticas públicas de proteção dos mares.
Apesar de sua importância, 40% dos oceanos mundiais estão fortemente afetados por atividades humanas, o que explica a péssima relação do homem com a biodiversidade marinha e está perdendo a capacidade de regular o clima, conforme suas águas se aquecem e se tornam mais ácidas. Graves ameaças, entre elas mudanças climáticas, poluição por plásticos e a forte proliferação da pesca predatória, requerem ações urgentes para evitar um ponto de virada que levará à aceleração da perda de biodiversidade marinha. O Objetivo do Desenvolvimento Sustentável nº 14 inclui um compromisso com a conservação de 30% do oceano até 2030, mas os países estão longe de tornar isso uma realidade. Outro grave problema que afeta fortemente a vida marinha são os vazamentos de óleo que ocorrem no oceano. A cada ano, oito milhões de toneladas de plásticos são despejadas nos oceanos, com a China respondendo por 28% desse total e se nada for feito, em 2050 teremos mais plástico, mais resíduos do que peixes nos oceanos.
Entre as principais ameaças aos oceanos estão a pesca excessiva, que desequilibra ecossistemas inteiros; a poluição dos mares, principalmente a poluição plástica; e os efeitos das mudanças climáticas nos oceanos; que têm alterando a temperatura deles.
O aumento da temperatura dos oceanos contribui para os efeitos das mudanças climáticas, intensificando o derretimento do gelo polar e, consequentemente, aumentando o nível do mar, uma ameaça direta às populações costeiras. Um oceano mais quente também afeta diretamente as correntes oceânicas. Estas correntes, uma vez alteradas, trazem efeitos negativos ao transporte de nutrientes pelo oceano e na produção de oxigênio que vem do processo de fotossíntese de espécies marinhas como o plâncton. Outra consequência de um oceano mais quente é a morte dos recifes de corais. Os recifes são a base da cadeia alimentar marinha e quando morrem, muitas espécies são afetadas.
Um oceano mais quente também é sinônimo de fenômenos atmosféricas mais frequentes e intensos, como os furacões, tempestades, outra ameaça às populações costeiras. A acidez nos oceanos é um dos efeitos colaterais mais perigosos das emissões de gases de efeito estufa. Mesmo um ligeiro aumento na acidez pode causar um colapso na cadeia alimentar global, levando a humanidade a enfrentar uma grande devastação em apenas duas décadas e meia.
Nos últimos 15 anos, muito se falou da economia verde, da exploração das florestas, da preservação delas, mas se destacar a movimentação de cargas feita por navios globalmente é esmagadora, sendo cerca de 90% das cargas são transportadas por navios, ou seja, por oceanos. Os oceanos são divididos em cinco grandes corpos d’água: Atlântico, Pacífico, Índico, Ártico e o Antártico; mas esta divisão serve apenas para organizar a maneira como estudamos estas águas. Na verdade, todos eles compõem um oceano global, que conecta todos os continentes.
De acordo com estudos e pesquisas, hoje já soma mais de 700 “zonas mortas”, áreas oceânicas que não podem mais sustentar a vida marinha devido à redução do oxigênio. Os efeitos das mudanças climáticas começaram a ganhar espaço justamente nesse contexto dos oceanos. Entre elas estão o aumento da temperatura das águas superficiais, o derretimento de gelo polar com consequente aumento do nível do mar, ameaçando populações costeiras, alterações de temperatura de correntes marinhas com efeitos no transporte de nutrientes e na produção de oxigênio e mudanças nos ciclos oceânicos que potencializam fenômenos como o El Niño e suas desastrosas consequências. O aumento de frequência e intensidade de eventos extremos como furacões e tufões e a acidificação nos oceanos também entram na lista, águas mais ácidas afetam significativamente os recifes de corais, ecossistemas indispensáveis para manter o equilíbrio dos oceanos.
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), são produzidas mais de 400 milhões de toneladas de plástico por ano, uma parte considerável chega aos mares. Se o ritmo não mudar, prevê-se que de 23 a 37 milhões de toneladas de plástico serão escoadas para o oceano todos os anos até 2040, segundo o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA). Uma pesquisa publicada na revista científica Journal of Industrial Ecology mostrou que os três países que mais contribuem para o despejo de plásticos nos mares são os Estados Unidos, o Brasil e a China; hoje se sabe, inclusive, que microplásticos originados da poluição contaminam águas e alimentos, e já estão presentes no sangue humano.


Os cientistas fizeram um modelo e descobriram um aumento rápido e significativo na poluição plástica oceânica, especialmente a partir de 2005, quando a estimativa foi de 16 trilhões de partículas (os chamados microplásticos). Essa quantidade cresceu anualmente, chegando a 171 milhões de partículas em 2019. Em toneladas de plástico, a estimativa é de 5 milhões de toneladas acumuladas nos mares. O peso equivale a 100 navios Titanic, é um alerta severo de que devemos agir agora em escala global.


Win Cowger, coautor do estudo, conta que, mesmo trabalhando há anos com o tema, sobre Poluição Plástica, na Califórnia, os resultados o surpreenderam. "A pesquisa abriu meus olhos para o quão desafiador é medir e caracterizar o plástico no oceano, e o resultado ressalta a necessidade de soluções reais para o problema. A intervenção de uma política internacional é urgente", considera.


Este aumento exponencial de microplásticos nos oceanos do mundo é um aviso severo de que devemos agir agora em escala global, parar de focar na limpeza e reciclagem e inaugurar uma era de responsabilidade corporativa por toda a vida das coisas que eles fazem. A limpeza é inútil se continuarmos a produzir plástico no ritmo atual, e ouvimos falar sobre reciclagem por muito tempo, enquanto a indústria do plástico rejeita simultaneamente qualquer compromisso de comprar material reciclado ou projetar para a reciclabilidade. É hora de resolver o problema do plástico na fonte.
Ravi Naidu, diretor do Centro Global de Remediação Ambiental da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, destaca os danos que os microplásticos causam à saúde humana. "Essas partículas são um contaminante emergente nos oceanos do mundo, decompondo-se a partir de resíduos plásticos maiores, incluindo sacolas, garrafas e bitucas de cigarro. Nossos oceanos e o que tem nele, como os frutos do mar, estão fervilhando de partículas de plástico em desintegração. As nanopartículas de plástico são particularmente perigosas, pois podem penetrar em quase qualquer parte do corpo, incluindo o cérebro e causar danos em escalas de tempo alarmantemente longas", destaca Naidu.
O Brasil é o sétimo maior poluidor oceânico de plásticos, segundo uma pesquisa publicada, em 2021, na revista Science Advances, por cientistas do The Ocean Cleanup, na Holanda. O artigo mostra que mais de 1 mil rios são responsáveis por 80% das emissões globais de resíduos fluviais nos mares, sendo que os pequenos rios urbanos estão entre os mais poluentes. Em primeiro lugar do ranking, estão as Filipinas, com 356.371 toneladas métricas anuais despejadas nos oceanos. O número brasileiro é calculado em 37.799 toneladas métricas. Os riscos dos microplásticos para a fauna marinha ainda são altamente desconhecidos e diz que é urgente entender como os detritos prejudicam a vida animal. "Sabemos que o lixo plástico pode resultar diretamente na morte de organismos marinhos maiores por emaranhamento, estrangulamento, asfixia e fome por ingestão, enquanto organismos menores podem filtrar a água e ingerir detritos de plástico menores. No entanto, o impacto dos micro e nanoplásticos nos organismos marinhos ainda é relativamente mal compreendido e é considerado uma ameaça oculta".
No Brasil possui a Amazônia Azul, com uma estimativa de que mais de 20% do PIB nacional venha do oceano e zona costeira. A economia azul necessita de ações interdisciplinares, que integre diferentes setores da sociedade e que desenvolva a ciência, tecnologia e inovação, como a inteligência artificial associada à coleta de dados, contribuindo para a conservação e uso sustentável do oceano. Porém, existe muito sobre a biodiversidade marinha a ser descoberto, e as empresas podem investir neste conhecimento que será a base para o desenvolvimento sustentável.


Empresas do mundo todo estão avaliando as oportunidades para assumir um papel de destaque nesse movimento global. Considerar o oceano, a biodiversidade costeira e marinha e a economia azul são oportunidades que farão a diferença ao longo dessa década. Se os oceanos são enormes jardins aquáticos produtores de oxigênio e armazenadores de dióxido de carbono, os cetáceos, grupo de mamíferos que inclui baleias e golfinhos, são os jardineiros. Ao longo de mais de 50 milhões de anos de evolução, esses animais carismáticos desempenharam papéis fundamentais para a estruturação e manutenção dos oceanos.
Os oceanos concentram a maior biodiversidade do planeta e, embora o setor empresarial tenha investido em medidas sustentáveis para o meio ambiente, muito menos atenção é dada ao ambiente marinho. A década dos Oceanos, propõe ações em prol da saúde oceânica por meio de cooperação internacional, incentivando a pesquisa científica e as inovações tecnológicas voltadas para a limpeza, segurança e sustentabilidade dos mares, oceanos e zonas costeiras.
Portanto, precisamos de um plano global. Devemos agir agora para proteger a nós mesmos, o planeta e as gerações futuras. Estragos no planeta já podem ser observados por causa do impacto da mudança climática nos oceanos. Mas, algumas das afirmações dos cientistas soam bem mais alarmistas, sem citar outros estudos. O que não diminui o teor da preocupação necessária. Com a dificuldade de monitorar vida microscópica nos oceanos, das quais o planeta depende, os pesquisadores sugerem uma melhoria nas atitudes de hoje para preservar as chances das futuras gerações de lutar pela sobrevivência.


Por Amanda Carolina Tostes


 


 

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