Nota da Coordenação do Observatório do Clima sobre os desdobramentos da Operação Lava Jato
A nova etapa da crise política despencou sobre o país com força de uma bomba atômica nesta quarta-feira, com denúncias que atingem o presidente Temer e outros políticos e empresários. Ela mostra que passou da hora de enterrar o modelo corrupto de governança vigente no país, pautado pela depredação do nosso patrimônio natural e dos direitos coletivos em troca do financiamento a campanhas políticas.
É sintomático que no centro desta tragédia estejam três empresas que representam o desenvolvimento sujo: a Petrobras, que explora combustíveis fósseis; a Odebrecht, que executa obras de infraestrutura que agridem nossas florestas e excluem populações em seu caminho; e, agora, a JBS, maior companhia do agronegócio brasileiro e uma das maiores financiadoras de campanhas políticas do país.
O conluio entre essas e outras empresas e agentes públicos nos legou o quadro atual: um país em grave recessão econômica, mas com desmatamento e emissões de gases de efeito estufa em alta; um país cujos principais biomas foram quase todos arrasados nos últimos 15 anos (a Amazônia perdeu 3% de sua vegetação remanescente; o cerrado, 8%; o Pantanal, 13%; e o pampa, 30%); um país que assiste a um empoderamento sem precedentes da bancada ruralista, com um ataque às áreas protegidas e a criminalização de indígenas por representantes de um agronegócio que se diz moderno, mas que não vive sem ajuda generosa do governo.
A saída para a crise depende, primeiramente, da depuração do sistema político, e a Lava Jato deve ser apoiada pela sociedade nesta tarefa. A resposta, porém, é muito mais ampla. Não adiantará meramente substituir governantes se os próximos que assumirem a liderança operarem sob as mesmas regras, arranjos e em prol de interesses privados e de curtíssimo prazo que degradam o meio ambiente, os direitos e o futuro do país. O Brasil precisa olhar para o longo prazo e adotar um modelo de desenvolvimento limpo – em todos os sentidos.