Mudanças climáticas podem levar nações a deixar de produzir culturas básicas para alimentação; Fundo Internacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento Agrícola pede investimentos para ações de adaptação. As plantações de alimentos básicos podem diminuir em pelo menos 80% até 2050 em oito países africanos. Os dados são do relatório divulgado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, Fida. O documento explica que as reduções, causadas pelo aumento da temperatura global, poderiam ter um impacto catastrófico, aumentando a pobreza e limitando a disponibilidade de alimentos.
Compromissos
A publicação ressalta que é urgente a necessidade de financiamento para ajudar agricultores vulneráveis ??na adaptação de seus cultivos. O fundo também alertou que a COP26 não terá um impacto duradouro se os líderes mundiais continuarem a priorizar a mitigação e negligenciar os investimentos em adaptação climática. O relatório comprova que se nenhuma mudança for feita nas práticas agrícolas ou políticas globais, o aumento de cerca de 2°C na temperatura global terá impacto devastador na produção de alimentos básicos e cultivos de pequenos agricultores em diversos países da África. Reforçando a necessidade de investimentos em ações para adaptações às mudanças climáticas, a vice-presidente do Departamento de Estratégia e Conhecimento do Fida, Jyotsna Puri, afirma que a cada US$ 18 gastos em mitigação, apenas US$ 1 atende às iniciativas de adequação aos novos desafios.
PMA/Bruno Djoye
Queda na produtividade pode levar ao aumento da fome e da pobreza.
Lacunas
O estudo do Fida afirma que, embora nenhum país esteja imune aos impactos das mudanças climáticas, os pequenos agricultores dos países em desenvolvimento são os mais vulneráveis ??e os menos capazes de lidar com a situação. Eles produzem um terço dos alimentos do mundo e até 80% em algumas áreas da África e da Ásia, mas recebem menos de 2% dos fundos investidos globalmente em financiamento climático. De acordo com o documento, o baixo investimento para a adaptação terá um efeito cascata em todo o mundo. A queda na produtividade das safras pode levar à alta dos preços dos alimentos, à diminuição da disponibilidade de alimentos e ao aumento da fome e da pobreza. Isso poderia desencadear um aumento da migração, conflito e instabilidade. No último ano, em todo o mundo uma em cada dez pessoas vivia com fome. No continente africano, o número sobe para uma em cada cinco pessoas.
Unicef/Asselin
Ifad recomenda investimentos para plantar safras alternativas diversificadas
Adaptação
De acordo com as conclusões do relatório, o impacto da mudança climática inevitavelmente forçará mudanças fundamentais nas escolhas de safras locais e práticas agrícolas até 2050 nesses países. Os investimentos recomendados incluem plantar safras alternativas diversificadas, plantar variedades variadas e adaptadas localmente, utilizar diferentes técnicas de plantio, fortalecer as capacidades e infraestrutura de armazenamento e processamento e cadeias de valor à prova de clima e melhorar o acesso e a gestão da irrigação. Puri conclui que a COP26 é “um ponto de inflexão para a humanidade” e que não se pode “desperdiçar a oportunidade de limitar o aumento da temperatura e apoiar agricultores a se tornarem resilientes aos efeitos das mudanças climáticas”.