• 21 de janeiro de 2021
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Restauração ecológica é decisiva para impedir extinções em massa, diz estudo

Estudo liderado por pesquisadores brasileiros em diferentes biomas do mundo analisou dados de quase 3 bilhões de hectares de habitats naturais transformados em terras agrícolas.

Restaurar 30% desta área e preservar os habitats naturais remanescentes poderia remover quase metade do excesso de dióxido de carbono emitido pelo homem desde o início da Revolução Industrial.

De acordo com pesquisadores, a restauração também salvaria 71% das espécies animais da extinção.

As áreas de alta prioridade estão concentradas nos trópicos. A restauração de áreas úmidas representa o maior impacto para a conservação da biodiversidade, enquanto a restauração das florestas é a mais importante para a mitigação da mudança climática.

Uma equipe internacional liderada por pesquisadores brasileiros publicou recentemente um estudo na revista Nature mostrando que a restauração ecológica de habitats atualmente degradados pela atividade agrícola é fundamental para mitigar os impactos da mudança climática e evitar a extinção de espécies animais.



O estudo analisou dados de 2,87 bilhões de hectares de áreas naturais — florestas, pastagens, áreas arbustivas, áreas úmidas e ecossistemas áridos — no mundo inteiro que foram transformadas em terras agrícolas ao longo dos anos.



Os pesquisadores usaram três critérios para avaliar os resultados: conservação da biodiversidade, mitigação da mudança climática e custo. Foram modelados 1.200 cenários combinando estes elementos e utilizando diferentes abordagens de restauração. O objetivo era chegar às melhores soluções de restauração combinando os maiores índices de conservação da biodiversidade e de mitigação das alterações climáticas com os menores custos possíveis.



Eles observaram que diferentes objetivos demandam áreas e estratégias de restauração distintas: a recuperação de áreas florestais é a prioridade quando a meta é mitigar os efeitos da mudança climática, enquanto a restauração de áreas úmidas é da maior importância quando o objetivo é conservar a biodiversidade. Ecossistemas áridos e pastagens são as áreas que apresentam maior relação custo-benefício para restauração.



Embora todos os continentes possuam áreas que combinam os três critérios de maneira eficiente, a maioria das áreas prioritárias para restauração está em regiões situadas nos trópicos. A preservação de habitats naturais e a restauração de 30% do total de terras convertidas em áreas agrícolas com foco nessas regiões pouparia 71% das espécies animais da extinção, além de absorver 465 gigatoneladas de dióxido de carbono da atmosfera —aproximadamente metade de todo o carbono emitido desde o início da Revolução Industrial.



Gislene Ganade, coordenadora do Laboratório de Ecologia da Restauração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), declara que este é o primeiro estudo a reunir uma metodologia avançada de modelagem e foco na conservação da biodiversidade, mitigação da mudança climática e custos globais de restauração. “Existem vários estudos de restauração ecológica com diferentes técnicas de recuperação para todos os ecossistemas, mas não conheço nenhum que já tenha usado estes três critérios ao mesmo tempo, numa escala global”, disse Ganade (que não participou do estudo) em uma entrevista à Mongabay.



Para Ganade, esta pesquisa faz soar o alarme para os legisladores e cidadãos em um momento em que o mundo está entrando na Década da Restauração de Ecossistemas, conforme foi definido pelas Nações Unidas. “Isso mostra que o Brasil é líder em estudos de restauração e também ajuda a olhar para um problema global com profundas implicações locais. Se existe uma hora para falar sobre estas questões, [essa hora] é definitivamente agora”, acrescenta.



O estudo em escala mundial foi inspirado na mesma metodologia que o autor principal, Bernardo Strassburg, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), desenvolveu para mapear áreas prioritárias para restauração na Mata Atlântica, um dos biomas mais degradados do Brasil.



Os pesquisadores observam que a restauração não precisa vir em detrimento da produção agrícola, já que 55% das terras convertidas poderiam ser restauradas, mantendo os rendimentos atuais.



por Meghie Rodrigues, Mongabay 


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