Se 2012 foi um ano quente, 2013 será ainda mais?
Pesquisador da Alemanha acredita que sim. Especialistas brasileiros são mais cautelosos.
Este foi mais um verão típico dos tempos de aquecimento global no Hemisfério Norte. Os Estados Unidos sofreram sob um sol escaldante em julho, após a primavera mais quente já registrada na história do país. Por aqui, no dia 19 de setembro, em uma semana de extremo calor, os termômetros marcaram 41,2 graus, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, com um pequeno detalhe: era inverno. Se 2012 foi um ano quente, 2013 será ainda mais?
Mais de 60% do território dos Estados Unidos está sofrendo com a seca, que atingiu também partes da Europa Oriental e da Índia. No Ártico, a cobertura de gelo do mar está em uma baixa recorde. Segundo artigo de Stefan Rahmstorf (do Instituto de Pesquisa do Clima de Potsdam, na Alemanha), publicado na revista “New Scientist”, o El Niño vai provocar, em 2013, um novo aquecimento dos oceanos, gerando assim recordes de temperaturas globais.
Uma variação natural na média de temperaturas faz com que alguns anos sejam mais quentes e outros mais frios: 2005 e 2010 ficaram acima da média, enquanto que 2008 e 2011 ficaram abaixo. A oscilação, em geral, é de 0,2 graus para mais ou para menos. Essa variação acontece por conta de erupções vulcânicas, alteração dos raios de sol e uma irregularidade entre as correntes quentes do El Niño e as frias do La Niña.
Mas, apesar dessa alternância natural, durante os últimos 30 anos, a temperatura global tem mostrado uma tendência de aquecimento linear de 0,16 graus Celsius por década. E, o que está provocando essa elevação nos termômetros? Medições de satélite mostram que, quando estamos sob influência do El Niño, o calor vem do mar. Já durante a atuação do La Niña, os oceanos, que estão com águas mais frias, acabam absorvendo calor extra. A outra possibilidade é que o aquecimento está vindo de cima: mais radiação está entrando do que saindo no topo da atmosfera. Isso acontece porque o aumento da quantidade de gases de efeito estufa dificulta a perda de calor para o espaço.
Na análise de Rahmstorf, independentemente do conjunto de dados de temperatura global utilizado, o resultado é sempre uma tendência de aquecimento constante, como previsto pela do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima.
No Brasil, o meteorologista Alexandre Nascimento, da Climatempo, lembra que 2012 começou frio, com o turismo no Sul e no Sudeste sofrendo devido ao frio e à chuva em janeiro. De fevereiro para cá, o tempo esteve, em média, mais quente do que o normal (com exceção de junho):
“No ano passado, não tivemos tanto calor, devido à presença do fenômeno La Niña – que facilita a entrada das massas polares sobre o país. De fevereiro de 2012 para cá, entramos em neutralidade em relação aos fenômenos El Niño/ La Niña e o tempo esquentou de novo (mais do que as médias normais), como já vínhamos observando até 2011. Ou seja, em relação a Brasil, voltamos a valores comparáveis a 2010 e 2009, que já haviam sido bem quentes”, avalia Nascimento.
O meteorologista Mozar de Araújo Salvador, da Coordenação Geral de Desenvolvimento e Pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) explica que, no Brasil, os efeitos mais típicos do El Niño são o aumento do risco de secas em parte das regiões Nordeste e Norte e de chuvas acima da média na região Sul, podendo atingir parte do Sudeste e sul do Mato Grosso do Sul.
De acordo com Mozar, realmente, no atual momento, está em formação um novo episódio de El Niño, mas com características que o classificam como evento fraco. Pelo menos até agora.
“Sobre 2013, não se pode fazer afirmações categóricas, pois mesmo sabendo que há um El Niño em formação e que este favorece um aumento da média na temperatura do planeta, é fato que este fenômeno tende a ser fraco e de média ou curta duração”, avalia Mozar.
Nascimento também acredita que é preciso evitar o tom alarmista:
“Não dá para falar que o mundo está aquecendo e vai continuar aquecendo para sempre! Nem que o El Niño está aquecendo os oceanos. Ele provoca o aquecimento anormal na área equatorial do Pacífico, apenas. Teremos, em média, uma primavera/verão extremamente quente – mas nada tão diferente de 2009, 2010 ou 2007 – anos bem quentes!”