• 13 de agosto de 2021
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Sem combate, desmatamento mantém alta em 2021

Queda de 5% no número de alertas apenas reflete dinâmica do crime ambiental, enquanto governo que enterrou plano de combate vende ação do Exército como cloroquina.



O acumulado de alertas de desmatamento em 2021 foi de 8.712 km2, mostram dados divulgados nesta sexta-feira (6/8) pelo sistema Deter, do Inpe (ate? 30 de julho, faltando um dia para fechar o ciclo de apurac?a?o do desmatamento, que vai de agosto de um ano a julho do ano seguinte). E? a segunda maior cifra da se?rie iniciada em 2016, perdendo apenas para o ano passado. Os tre?s recordes da se?rie foram batidos no governo Bolsonaro, no qual os alertas sa?o 69,8% maiores que a me?dia dos anos anteriores.



Nem mesmo o general Hamilton Moura?o, comandante do Conselho da Amazo?nia, conseguiu comemorar o recuo de 5,4% na a?rea de alertas em relac?a?o a 2020. Ha? poucas semanas ele havia prometido a? imprensa que o desmatamento cairia 10% e na segunda-feira (2/8) declarou que na?o cumpriria a meta. No ano passado, a embaixadores estrangeiros, foi ainda mais otimista: prometeu 15% de queda.



Ate? as a?rvores mortas da Amazo?nia sabem que nenhum nu?mero que o governo ponha na mesa tem credibilidade, ja? que falta ao Brasil o essencial: uma poli?tica de controle do desmatamento. Ao contra?rio, ha? dois anos e meio o regime de Jair Bolsonaro se dedica a desmontar a governanc?a ambiental e a ativamente estimular o crime. “O destino da floresta esta? nas ma?os das quadrilhas de grileiros, madeireiros ilegais e garimpeiros. Hoje, sa?o eles que determinam qual sera? o dado oficial de desmatamento. Na Amazo?nia, o crime ambiental atua livremente, e conta com a parceria do atual governo”, afirma Marcio Astrini, secreta?rio- executivo do Observato?rio do Clima.



O plano de controle do desmatamento criado em 2004 foi abandonado. No fim de junho, apo?s dois anos e meio de governo, o ministro Ricardo Salles caiu sob acusac?a?o de montar um escrito?rio do crime no ministe?rio para favorecer madeireiros. A “foice no Ibama” ordenada por Bolsonaro no comec?o de seu mandato derrubou pela metade as multas por crimes contra a flora na Amazônia em relação a 2018, u?ltimo ano antes do ini?cio da atual gesta?o. O governo ainda paralisou o fundo Amazo?nia e travou a cobranc?a de multas ambientais do pai?s. O novo ministro, Joaquim Leite, ate? agora na?o tomou nenhuma medida que contrarie as poli?ticas de seu antecessor.



Ao contra?rio, o governo federal agora tem um apoio fundamental e ainda mais perigoso para o desmonte: o Centra?o, comandado por Arthur Lira (PP-AL). O presidente da Ca?mara aprovou num intervalo de poucas semanas o fim do licenciamento ambiental e a anistia potencialmente eterna a? grilagem de terras, principal motor do desmatamento na Amazo?nia. “A expectativa de anistia com a aprovac?a?o do PL da Grilagem e? um esti?mulo para os desmatadores e tende a tornar muito mais difi?cil o controle da destruic?a?o. Os altos i?ndices de desmatamento e o desmonte da legislac?a?o ambiental te?m repercussa?o mundial e prejudicam imensamente a imagem do pai?s. E? neste cena?rio que o Brasil chegara?, daqui a alguns meses, na confere?ncia do clima da ONU”, prossegue Astrini.



As ac?o?es pontuais do Exe?rcito, como a fracassada Operac?a?o Verde Brasil e agora Operac?a?o Samau?ma, que os sate?lites mostram tambe?m estar falhando, sa?o vendidas como ac?a?o a governos estrangeiros preocupados com o impacto do desmatamento sobre a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento da Terra a 1,5oC. Mas, na ause?ncia de qualquer poli?tica pu?blica para a floresta que na?o seja a pilhagem promovida por Bolsonaro, Moura?o e Lira, te?m tanta eficie?ncia quanto cloroquina.



Os dados oficiais de desmatamento, do sistema Prodes, sera?o divulgados apenas no fim do ano, mas os alertas do Deter – monitoramento diário que deveria orientar a fiscalização do Ibama – ajudam a projetar o tamanho do problema. O resultado indica que o desmatamento anual devera?, pela terceira vez, ficar pro?ximo de 10 mil km2, o que na?o ocorria desde 2008.



Recordes de alertas em minerac?a?o e degradac?a?o



A ana?lise por categorias de alertas indica que a minerac?a?o devastou 125 km2 em 2021, a maior marca desde o ini?cio da se?rie histo?rica do Deter-B, em 2016. Houve alta de 62% em relac?a?o a 2018.



O registro coincide com a discussa?o no Congresso de projeto de lei apresentado por Bolsonaro no ini?cio de 2020 para liberar o garimpo em terras indi?genas, ale?m do boicote de va?rias operac?o?es contra garimpos ilegais. Em abril de 2020, a cu?pula da fiscalizac?a?o do Ibama foi exonerada apo?s uma operac?a?o de combate a garimpos em terras indi?genas no Para?.



A degradac?a?o florestal (quando e? removida parte da vegetac?a?o) tambe?m atingiu ni?vel recorde: 6.062 km2 em 2021, a maior marca desde 2017, ini?cio da se?rie histo?rica disponi?vel. Houve alta de 87% em relac?a?o a 2018. Apenas o corte seletivo, ou seja, a extrac?a?o de madeira, quase triplicou em a?rea de alertas em 2020 e 2021 em relac?a?o a? me?dia dos anos anteriores. O peri?odo coincide com as ac?o?es de Ricardo Salles e do presidente suspenso do Ibama, Eduardo Bim, para afrouxar o controle da exportac?a?o de madeira — pelas quais ambos respondem hoje na Justic?a.



Sobre o Observato?rio do Clima: rede formada em 2002, composta por 66 organizac?o?es na?o governamentais e movimentos sociais. Atua para o progresso do dia?logo, das poli?ticas pu?blicas e processos de tomada de decisa?o sobre mudanc?as clima?ticas no pai?s e globalmente. Site: http://oc.eco.br.


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