• 29 de agosto de 2012
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Semana da Água discute segurança hídrica e alimentar

Representantes de diversos países debatem formas de aliviar a pressão sobre os recursos hídricos do planeta; melhores formas de medição do uso da água são uma das soluções apontadas por participantes
Líderes políticos, ativistas e empresas de mais de 100 nações estão reunidos na capital da Suécia, Estocolmo, para a Semana Mundial da Água, evento que tem como objetivo tratar de diversas questões relacionadas aos recursos hídricos do planeta e como o ser humano se relaciona com eles. Neste ano, a conferência discute pontos ligados à segurança hídrica e alimentar, quais são as principais dificuldades neste aspecto e quais as possíveis soluções para resolver estes problemas.

O encontro iniciou com um pedido por ações globais que reduzam o desperdício de água e de alimentos, fator crítico na questão da segurança hídrica e alimentar. Isso porque grande parte da água doce do mundo é utilizada na produção de alimentos, e cerca de um terço desta é perdida, o que significa que boa parte da água potável é desperdiçada.

Para se ter uma ideia, atualmente mais de 900 milhões de pessoas passam fome e dois bilhões de pessoas enfrentam sérios riscos à saúde devido à subnutrição, enquanto 1,5 bilhão de pessoas comem demais.

“Mais de um quarto de toda a água usada no mundo é utilizada no cultivo de mais de um bilhão de toneladas de alimentos que não são consumidos por ninguém. Essa água, juntamente com os bilhões de dólares gastos para cultivar, transportar, embalar e comprar os alimentos, é jogada no lixo”, comentou Torgny Holmgren, diretor executivo do Instituto Internacional de Água de Estocolmo (SIWI) e organizador desta Semana Mundial da Água.

“Reduzir o desperdício de alimentos é o caminho mais inteligente e mais direto para aliviar a pressão sobre os recursos hídricos e terrestres. É uma oportunidade que não podemos nos dar ao luxo de ignorar”, acrescentou Holmgren.

Por isso, José Graziano da Silva, diretor geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), sugeriu que a agricultura, uma das atividades mais essenciais ao ser humano e uma das que mais consome água, receba uma ênfase especial quando se trata de segurança hídrica e alimentar. Da Silva também defendeu que o investimento em pequenos agricultores é essencial para atingir tal segurança para todas as pessoas.

“Os números mostram que a agricultura é uma atividade sedenta. Mas isso também significa que a agricultura tem a chave para um uso sustentável da água. Em todo o mundo, 2,6 bilhões de pequenos produtores cultivam a terra, criam animais e peixes. Eles são os principais fornecedores de alimentos no mundo em desenvolvimento”, declarou o diretor geral da FAO.

“Se queremos que eles produzam mais sustentavelmente, preservando os recursos naturais, se adaptando e contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas, precisamos ajudá-los. Não podemos esperar que eles façam isso sozinhos”, completou da Silva.

Já Colin Chartres, diretor geral Instituto Internacional de Manejo de Água (IWMI), lembrou que o crescimento populacional também é um fator que coloca cada vez mais pressão sobre os recursos hídricos e alimentares. Apesar disso, Chartres afirmou que com um melhor manejo e eficiência, é possível alimentar a crescente população mundial.

“Alimentar mais de nove bilhões de pessoas até 2050 é possível, mas temos que refletir sobre o custo para o meio ambiente em termos de uso de água e recursos terrestres. Isso colocará uma pressão fenomenal sobre os serviços ecossistêmicos dos quais nossa sociedade depende”, observou o diretor geral do IWMI.

“Economizar água através da redução do desperdício de alimentos, do aumento da produtividade, do melhoramento de plantas e da reciclagem de águas residuais é vital para todos nós”, acrescentou.

Para superar todos estes desafios, várias propostas estão sendo apresentadas na Semana Mundial da Água. Uma delas é uma iniciativa da ONU que lançou guias para a divulgação do uso corporativo da água. O projeto, intitulado Corporate Water Disclosure Framework (Quadro de Divulgação Corporativa da Água), pode ser aplicado a empresas de quaisquer setores e regiões e se baseia em três áreas:

- perfil hídrico da companhia: visão geral do relacionamento da firma com recursos hídricos, oferecendo uma ideia do desempenho hídrico, impactos dos riscos e estratégias de resposta;

- definição do conteúdo do relatório: descrição do processo pelo qual a empresa determina qual conteúdo relacionado à água deve ser incluído no relatório;

- divulgação detalha: métricas específicas e detalhadas e informações qualitativas relacionadas ao manejo hídrico da companhia, assim como a programas específicos de manejo hídrico e projetos que a firma implementa.

“A divulgação corporativa da água envolve a coleta de dados sobre o atual estado do manejo de água da companhia, avaliando as implicações dessa informação para as empresas, desenvolvendo uma resposta estratégica e, finalmente, reportando essa informação às partes interessadas. Os guias visam informar sobre trabalhos existentes e em surgimento no campo do manejo, avaliação e divulgação corporativa da água,”, declarou o Pacto Global da ONU.

Empresas como Coca-Cola, Nike, Nestlé, Siemens e Veolia Water apoiaram o lançamento dos guias, assim como investidores como Ceres, WWF, Robecco, Norges Bank e DEG Invest.

“É nossa esperança que esses guias levem a uma convergência com relação a como as companhias reportam seus esforços de manejo de água, permitindo que as companhias disponham de mais tempo e recursos para uma gestão ativa da água”, afirmou Gavin Power, diretor-adjunto do Pacto Global da ONU.

“A divulgação também apoia um manejo mais sustentável e equitativo dos recursos hídricos, melhorando a capacidade das partes interessadas de avaliar as práticas hídricas de uma companhia e fazendo comparações entre companhias – o que promove uma maior responsabilidade corporativa”, acrescentou Power.

Além dessa iniciativa, outras ações também buscam apontar alternativas para os problemas relacionados à segurança hídrica e alimentar.

Uma delas é o relatório Carbon and Water Footprints: Concepts, Methodologies and Policy Responses (Pegadas de Carbono e Hídrica: Conceitos, Metodologias e Respostas políticas), que indica as diferenças entre as pegadas hídrica e de carbono, observando que elas constantemente são tratadas de forma similar.

O documento enfatiza a definição e a metodologia por trás da pegada hídrica, apontando que atualmente há uma grande falta de guias sobre o assunto e muita confusão com a pegada de carbono. O relatório analisa as origens das duas pegadas, compara suas metodologias e respostas e conclui que a criação de guias, definições e metodologias mais específicas aumenta a credibilidade tais pegadas.

O documento ressalta também a necessidade de: políticas para reduzir a dependência no uso de energia e água e aumentar a eficiência hídrica e de carbono; regulação para reduzir as pegas hídricas e de carbono; e criação de políticas que combinem redução da pobreza, uso da terra, segurança alimentar e pegadas hídricas e de carbono.

Outro relatório que trata do assunto é o Green Accounting and Data Improvement for Water Resources (Contabilidade Verde e Melhoramento de Dados para Recursos Hídricos). O documento analisa a incorporação de indicadores hídricos em sistemas de contabilidade ambiental, e ressalta a importância de dados de água para melhorar as decisões sobre o assunto.

O relatório também lembra que os dados são importantes para superar desafios como: água para a produção alimentar, fornecimento urbano de água, tratamento de resíduos hídricos, pegada hídrica corporativa, impactos a ecossistemas, ambientais e de mudanças climáticas etc.

Um terceiro documento, o Crop Yield Response to Water (Resposta do Rendimento Agrícola à Água), reúne ferramentas para analisar a resposta do rendimento das colheitas à água, visando aumentar a eficiência hídrica.

Os mecanismos servem para determinar os efeitos da falta de água na produção agrícola; investigar os impactos das mudanças climáticas no rendimento das colheitas; comparar vários planos de distribuição de água; otimizar a irrigação; e criar estratégias para aumentar a produtividade e a economia hídrica.

Além destes relatórios, outros documentos relacionados à segurança hídrica e alimentar serão lançados até o final da Semana Mundial da Água. Também serão realizadas mais de 100 sessões de discussão para debater o assunto, e serão concedidos prêmios a empresas e organizações por seus esforços para reduzir o consumo de água em suas operações e para ajudar a resolver os desafios da água em larga escala.

Empresas contempladas