TERRAMÉRICA – Brasil desenvolve plástico solar
Mediante uma técnica já existente, as células orgânicas solares, mas graças à sua própria fórmula secreta, cientistas brasileiros criaram painéis fotovoltaicos plásticos.
Porto Alegre, Brasil, 11 de março de 2013 (Terramérica).- Pesquisadores brasileiros desenvolveram painéis plásticos capazes de gerar eletricidade a partir da luz do Sol. A descoberta é parte de uma tendência em alta no Brasil: o desenvolvimento e a inserção de tecnologias verdes. O plástico é fino e flexível, com aparência bastante comum, mas se trata de um painel de geração de energia fotovoltaica. O material, que em nada se parece com as pesadas e caras placas de silício que imaginamos ao pensar nesta fonte de eletricidade, foi criado por cientistas do CSEM Brasil, instituto com sede em Minas Gerais.
Composto por polímeros comuns, aos quais são incorporadas células fotovoltaicas orgânicas, este material é transparente, com pequenas faixas nas quais estão impressos os polímeros orgânicos à base de carbono. A tecnologia para produzir estas células já era conhecida na Europa e nos Estados Unidos, e agora também é no Brasil. O “plástico solar” pode representar, afirmaram seus inventores, uma pequena revolução na forma de gerar energia limpa a partir do Sol.
“Embora a capacidade de geração seja bastante parecida, por seu pequeno tamanho pode ter usos quase impossíveis para as placas de silício”, disse ao Terramérica o presidente do CSEM Brasil, Tiago Maranhão Alves, engenheiro físico que participou diretamente das pesquisas. Esta técnica pode ser empregada para fazer funcionar componentes elétricos dos automóveis, em dispositivos eletrônicos como telefones celulares, mouses de computadores e teclados sem fio.
Porém, os brasileiros estão concentrados em desenvolver painéis solares, que podem revestir superfícies mais ou menos extensas, como janelas. “Um painel de dois ou três metros quadrados pode ser suficiente para gerar energia em uma casa onde vive uma família de quatro pessoas”, explicou Alves. “Como a relação custo-benefício é boa, pode ser uma opção para levar energia a áreas remotas que não têm serviço elétrico. No Brasil, com mais de 192 milhões de habitantes, há cerca de um milhão de lugares nessas condições”, acrescentou o cientista.
A facilidade do transporte é sua principal vantagem em relação às placas de silício. “Como é simples transportá-las, os custos logísticos são baixos. Além disso, a pessoa pode levar com ela quando mudar de casa”, destacou Alves. O plástico pode ser usado ainda para revestir prédios e recintos como aeroportos ou estádios esportivos, evitando a necessidade de reservar uma área para instalar os painéis solares.
Para alcançar a fórmula que tem o material brasileiro, foram investidos US$ 10 milhões e se prevê que o investimento duplicará no próximo ano. “Agora vamos estudar a melhor forma de dar escala ao produto. No estado atual já é possível comercializá-lo, mas o preço deve ser analisado caso a caso”, explicou Alves. Os recursos investidos, que também possibilitaram a criação do CSEM Brasil, procedem de uma sociedade entre a administradora de investimentos FIR Capital e o Centre Suisse d’Electronique et de Microtechnique. Além disso, o projeto obteve apoio da Fundação de Fomento à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
O projeto ainda é mantido reservado, pois está sujeito a segredo comercial. “Este é um mercado de milhares de milhões de dólares, e muitos centros estão atrás desta tecnologia”, pontuou o engenheiro. O anúncio dos pesquisadores de Minas faz parte de uma tendência crescente no Brasil: os investimentos em tecnologias limpas. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa estatal vinculada do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, implantou no ano passado o Programa Brasil Sustentável, que distribuirá o equivalente a US$ 10 milhões em linhas de crédito para iniciativas que considerarem a preservação dos recursos naturais.
Segundo a Finep, o programa responde a uma demanda percebida pela instituição, que nos últimos anos destinou US$ 2,3 milhões a 480 projetos com alguma característica verde, 25% deles concebidos para geração de energias limpas. Para o professor e doutor em administração de empresas André Pereira de Carvalho, o aumento de recursos para este tipo de pesquisa se deve a que, tanto os fundos privados de investimento como as instituições públicas, perceberam que esta é uma área lucrativa.
“Estas organizações avaliam principalmente se o produto é bom, possui uma fórmula difícil de ser copiada e tem potencial para ser produzido em escala. Isto vale para qualquer versão, seja uma empresa de tecnologias da informação ou de tecnologias verdes”, explicou ao Terramérica Carvalho, que coordena estudos sobre inovação para a sustentabilidade.
No entanto, se comparado com Estados Unidos, Japão ou Alemanha, o Brasil está nas fraldas em matéria de negócios verdes, mas promete aprender a caminhar a grande velocidade. “Há alguns anos, o empreendedor que queria investir neste setor encontrava muitas dificuldades. Hoje ainda existe a desconfiança de olhá-lo como um mercado mais caro e de nicho, mas já é mais simples obter financiamento”, ressaltou Carvalho. Envolverde/Terramérica
* A autora é correspondente da IPS.