TERRAMÉRICA – Em busca de mais vida
Agregar meio século à centenária mina de cobre El Teniente implica um enorme investimento e desafios tecnológicos para reduzir a mortalidade no trabalho e o impacto ambiental.
Rancágua, Chile, 8 de abril de 2013 (Terramérica).- A maior mina de cobre subterrânea do planeta, explorada desde 1905 e propriedade da estatal Corporação Nacional do Cobre do Chile (Codelco), se prepara para prolongar sua vida em mais 50 anos. Para isso precisa incorporar tecnologia de ponta e investir US$ 3,278 bilhões, valor semelhante ao empregado em toda a história da Divisão El Teniente, o nome formal da mina.
Localizada na Cordilheira dos Andes, para se chegar a El Teniente é preciso percorrer 150 quilômetros a partir de Santiago em direção ao sul. Apenas em 2010, forneceu 25% da produção da Codelco. O cobre foi estatizado em 1971 e representa tudo para o Chile, primeiro produtor mundial desse metal.
No setor El Teniente 8 são extraídas 137 mil toneladas por dia (tpd), equivalentes à produção de 434 mil toneladas de cobre fino por ano. Porém, o metal está acabando nessa área, que conta com reservas apenas até 2025. Por isso a Codelco desenvolve o projeto Novo Nível Mina, que começará a operar em 2017 e permitirá explorar 2,02 bilhões de toneladas de reservas alojadas em uma profundidade maior, na cota 1.880 de altitude e cem metros abaixo de El Teniente.
Trata-se de “um projeto estrutural dentro da Corporação, que segue junto aos que estão sendo desenvolvidos nas divisões Andina e Chuquicamata Subterrânea”, explicou ao Terramérica a executiva Millaray Farías, chefe de processo da estação de brita da mina Pipa Norte, uma das oito jazidas que funcionam em El Teniente. “Isso vai permitir que tenha vida por muitos anos mais, já que se estima funcionará até 2070”. A brita é a redução do material extraído em fragmentos pequenos.
Além de garantir os volumes de produção atuais, a nova mina permitirá, em 2020, o início das obras necessárias para se chegar a produzir 180 mil tpd. O cobre é cotado a mais de US$ 3 a libra na Bolsa de Metais de Londres. No ano passado, a Codelco gerou para o Estado ganhos de US$ 7,518 bilhões, o terceiro maior excedente de sua história.
Para que o Novo Nível Mina opere a partir de 2017 serão escavados 98.450 metros de túneis e 3.454 metros verticalmente, para chaminés de ventilação, passagens e galerias para permitir controlar a passagem do mineral, desde a produção até o transporte. O acesso se dará por dois túneis paralelos de 9,4 quilômetros: um para a entrada e saída de veículos com trabalhadores, e o outro para a correia transportadora de minério e a pista de serviços.
Em El Teniente se extrai o mineral por meio de afundamento de painéis (panel caving): explosões que afetam as bases do mineral, do tamanho de um prédio de 50 andares, para sua fratura. Depois, com a força da gravidade e equipes de mineradores, esses blocos vão diminuindo.
Uma questão delicada é a mortalidade: 6,5 mortes de mineradores por ano, diz a estatística. O Projeto Estrutural de Segurança e Saúde Ocupacional busca um recorde de cinco anos sem fatalidades, com taxa de frequência abaixo de um, bem como automatizar processos perigosos e melhorar as condições de salubridade no trabalho em todas as áreas.
“Tradicionalmente, nossa gente estava acostumada a que a produção não podia parar. Hoje, aos poucos, entendem que a questão da segurança é de todos e que não se deve apenas velar pela própria vida, mas também pela dos outros velhos” (como se chama quem trabalha dentro das minas), afirmou Juan Bobadilla, engenheiro superintendente de processos na Fundição de El Teniente, ao ser perguntado pelo Terramérica.
As medidas de segurança na Divisão, composta por cinco mil trabalhadores, estão compreendidas em sete valores corporativos que partem do “respeito à vida e à dignidade das pessoas”. No dia 23 de março, morreu um operador de máquina na Divisão Radomiro Tomic, o que levou os trabalhadores a cruzarem os braços e forçou a empresa a fechar temporariamente a mina.
O projeto de El Teniente inclui operações semiautomáticas comandadas a partir de salas de controle localizadas em Roncágua, a mais de 50 quilômetros da área de trabalho. Atualmente, a mina com mais tecnologia moderna é Pipa Norte, onde se trabalha com equipes autônomas de carga e descarga (LHD), “operados desde o concentrador Colón – o lugar onde são liberados e se concentram as partículas de cobre que são encontradas na rocha –, a 13 quilômetros da mina”, explicou Farías. A estação de brita e o martelo também são manejados por controle remoto, acrescentou.
Apesar do avanço técnico, os recursos humanos são valorizados, porque “naturalmente surgem outras tecnologias que vão necessitando do apoio dos velhos”, apontou Bobadilla, usando a gíria dos mineradores. “Assim, os que têm que se aposentar se aposentam e os que ainda estão na ativa vão assumir novos postos. Isto é, não há dor”, assegurou.
Outro assunto que faz parte da carta de valores da Codelco é a busca pelo desenvolvimento sustentável. Bobadilla garantiu que a Divisão captura 93,9% das emissões de dióxido de enxofre – o principal contaminante – e só libera na atmosfera 6%. A empresa pretende aumentar a proporção capturada para 95% até 2017.
Luis Sandoval trabalhou 38 anos em El Teniente. Já aposentado, atua como guia, a pedido da companhia. Enquanto nos deslocávamos por um longo túnel subterrâneo, Sandoval contava ao Terramérica que em El Teniente acabaram há anos os acampamentos de mineradores.
“Hoje, todos os trabalhadores ‘baixam” em Rancágua, onde estão suas casas e famílias, e ‘sobem’ somente quando têm de assumir seus turnos, explicou Sandoval. Por isso, “as emissões de ácido sulfúrico da mina não prejudicam a população”, assegurou. As águas ácidas são processadas em uma estação especial e “fazemos de tudo para lançar o menos possível de resíduos industriais sólidos e líquidos, e cuidamos deles aqui”, afirmou Farías. Envolverde/Terramérica
* A autora é correspondente da IPS.