TERRAMÉRICA – Água do mar para mineração
Até 2022, o setor privado terá investido US$ 10 bilhões em 16 novos projetos de unidades dessalinizadoras de água do mar no Chile.
Santiago, Chile, 5 de agosto de 2013 (Terramérica).- A aridez do norte chileno obriga as empresas mineradoras a buscarem novas fontes hídricas. A principal é a água do Oceano Pacífico, cujo uso se espera aumente na próxima década, apesar dos elevados custos de extração e transporte. A vasta região do norte do Chile abriga o Deserto de Atacama, um dos mais áridos do mundo, e também as maiores reservas de cobre, principal riqueza deste país, com 6.435 quilômetros de litoral no Pacífico.
“Em regiões áridas e semiáridas, onde a disponibilidade de água é muito limitada, o mar é uma alternativa para os processos industriais e outros usos”, explicou ao Terramérica o acadêmico Luis Cisternas, do Centro de Pesquisa Científica-Tecnológica para a Mineração. Dados do Conselho Mineiro indicam que a extração de cobre empregou 12.615 litros/segundo de água fresca em 2011, mesmo ano em que um informe do Banco Mundial alertou para uma considerável queda na disponibilidade de água superficial no Chile.
“A utilização de água do mar não é só uma solução para as mineradoras, mas também uma forma de liberar a água doce para outros usos e permitir a restauração de sistemas prejudicados”, pontuou Cisternas, professor na Universidade de Antofagasta. Embora a mineração empregue água do mar em diferentes partes do mundo e há muitos anos, no Chile há casos isolados, normalmente de pequenas ou médias empresas e com minerais cuja extração não é prejudicada nem favorecida por este uso, explicou.
A primeira grande empresa a usar água do mar foi a Mineradora Esperanza, propriedade de uma empresa formada por Antofagasta Minerals e Marubeni Corporation. Esta jazida de cobre utiliza em todos os seus processos água oceânica sem dessalinizar, transportada em um duto de 145 quilômetros. No momento, representa 30% do total de água que necessita.
A estatal Corporação Nacional do Cobre do Chile (Codelco) utilizará água do mar pela primeira vez para explorar as reservas de sulfureto da Divisão Radomiro Tomic, um dos projetos estruturais da companhia, que pretende estender a vida útil de várias de suas jazidas. “No caso do projeto Radomiro Tomic (RT) Sulfuretos, o uso de água do mar permite não pressionar por recursos frescos da Cordilheira dos Andes ou de água continental, em uma área em que não há disponibilidade de novos recursos hídricos”, disse ao Terramérica uma fonte da Codelco.
O projeto RT Sulfuretos é uma nova linha de produção de concentrados de cobre, cuja exploração implica maior consumo de água por tonelada produzida do que a atual exploração de minerais oxidados que a divisão possui. “O uso de água do mar dessalinizada permite estender a vida útil do projeto sem aumentar o consumo de água da Cordilheira”, acrescentou a fonte. Para sua operação, a empresa extrairá a água marinha e a dessalinizará mediante osmose inversa, técnica que consiste em pressionar os fluidos através de uma membrana que retém os sólidos dissolvidos.
Essa água tratada será conduzida para as instalações da divisão, que fica a três mil metros de altitude, mediante uma tubulação de 160 quilômetros de comprimento. A operação representa gasto de US$ 2,6 por metro cúbico, explicou a Codelco. Segundo estudos, o custo associado ao sistema de fornecimento de água oceânica pode representar entre 20% e 30% do valor total de um projeto a mais de 150 quilômetros da costa e entre três mil e quatro mil metros de altitude.
“Isto significa que é necessário buscar formas mais eficientes de abastecer as mineradoras com água do mar”, afirmou Cisternas, acrescentando que “o ideal é utilizar água oceânica sem tratamento porque sua dessanilização exige energia e produz efeitos danosos para o meio ambiente, mas nem sempre se pode fazer”. Segundo o especialista, “é preciso conseguir gerar água de diferentes qualidades a partir do mar, considerando que diferentes tecnologias e minerais exigem diferentes tipos do líquido”.
Para a Codelco, a água dessalinizada “não é uma solução inócua, pois implica maior consumo de energia, tanto para seu tratamento, como, principalmente, para impulsioná-la até onde estão as jazidas”. A fonte da Codelco observou que, “inclusive, não é economicamente viável para os projetos com margens de lucro mais apertadas ou para os projetos que não têm garantido o fornecimento de energia”. Além disso, embora delimitados, as instalações dessalinizadoras também geram impactos na margem costeira e no meio marinho.
Samuel Leiva, coordenador de campanhas do capítulo chileno do Greenpeace, alertou para o impacto ambiental que, no longo prazo, pode provocar o sal extraído da água. As unidades dessalinizadoras precisam de energia em uma área onde não há água, “então, a alternativa é desenvolver projetos que utilizam combustíveis fósseis, aumentam as emissões atmosféricas e causam danos ambientais ao longo da costa” ao devolver para o oceano águas com uma temperatura superior, detalhou ao Terramérica.
Segundo a Águas Antofagasta, a tecnologia para dessalinizar começou em 2003, com a implantação da Estação de Antofagasta, que buscou fornecer parte do recurso à população. No momento há 14 projetos deste tipo, 11 deles associados ao setor de mineração. No final de julho, a Mineradora Escondida informou que investirá US$ 3,43 bilhões na construção da maior unidade dessalinizadora do país. Até 2022, espera-se investimento privado de US$ 10 bilhões para 16 novos projetos desse tipo. Envolverde/Terramérica