• 23 de julho de 2014
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Tecnologias estimulam construção sustentável no Brasil

Energia limpa, captação da água da chuva e tratamento do próprio esgoto são algumas das possibilidades tecnológicas que ajudam o país a se destacar em um cenário internacional que busca menor impacto da construção civil

Atualmente, o Brasil é um dos países que mais se destaca no panorama internacional da construção sustentável. Segundo o Green Building Council Brasil (GBC Brasil), conselho que procura desenvolver a indústria da construção sustentável no país, o Brasil ocupa o quarto lugar entre as nações que mais concentram edificações feitas a partir de critérios ambientalmente adequados, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Emirados Árabes Unidos, e tem perspectivas de melhorar ainda mais a sua posição.

Em 2013, os números de edificações certificadas pelo sistema internacional Leadership in Energy Environmental Design (LEED) no Brasil aumentaram 51%, segundo Felipe Faria, diretor gerente do Green Building Council Brasil.

O GBC, que concede a certificação LEED no país, comprovou o aumento, que chegou à marca de quatro certificações concedidas por mês e dois novos empreendimentos registrados a cada três dias úteis do ano.

Além disso, outros dados do GBC apontam que o Brasil é destaque também em segmentos isolados da construção sustentável. Recentemente, com a certificação de seis estádios da Copa do Mundo, a Arena Grêmio e o Centro de Desenvolvimento Esportivo em Osasco, o Brasil se consolidou como a segunda nação com maior número de edificações esportivas certificadas pelo LEED.

E as tecnologias que contribuem para o desenvolvimento da construção sustentável no Brasil não poderiam ser mais variadas, abrangendo desde energia limpa à captação da água da chuva e tratamento do esgoto na própria edificação.

Um exemplo é o Hotel Fazenda Spaventura, que recentemente começou a colher os frutos da instalação de uma usina fotovoltaica para alimentar suas edificações. A produção total de energia da usina, que possui 160 placas, teve um investimento de mais de R$ 500 mil, mas já atingiu 4,5 mil quilowatt-hora por mês, representando uma economia mensal de R$ 1,8 mil mensais e tornando o hotel autossuficiente em energia limpa.

Do ponto de vista ambiental, essa inovação representa uma compensação equivalente a 308 quilogramas de dióxido de carbono por mês, ou 3,7 mil quilos por ano.

“Os benefícios são principalmente ambientais. Com a usina fotovoltaica, estamos lançando na rede energia limpa. Isso significa redução da demanda que normalmente exige o uso de fontes hidrelétricas localizadas a grandes distâncias”, explicou Patrícia Haberkorn, empresária e sócia do SPaventura.

“Somos uma empresa que acredita na geração de energia solar como uma forma eficiente e real de fazer algo para reverter os problemas causados pelas mudanças climáticas”, continuou Haberkorn.

Além dessa tecnologia, outras soluções tornam o hotel uma construção ainda mais sustentável: captação de água de chuva por meio das telhas dos chalés para as descargas dos banheiros; filtro e cisterna de água; fabricação dos próprios produtos de limpeza, utilizando óleos orgânicos extraídos e destilados na própria fazenda; e produção de alimentos orgânicos oferecidos para o consumo dos hóspedes.

Outro exemplo de tecnologia sustentável em edifícios é o sistema integrado Ecoesgoto, presente em uma das nove residências que estão participando do Referencial de Casas Sustentáveis do Green Building Council Brasil.

Trata- se de uma solução que integra o telhado verde ao tratamento de esgoto e armazenamento e reuso de água. É formado por um digestor a base de minhocas, que digerem toda a matéria orgânica

Depois disso, o efluente pré-tratado é bombeado para a cisterna do telhado verde, onde os microorganismos existentes nas raízes das plantas continuarão tratando o efluente, e a água da chuva que ali se acondiciona. O sistema foi instalado na Residência Sustentável de Brasília (figura ao lado), que está sendo construída, mas é indicado para qualquer tipo de edificação.

Como 100% do esgoto será tratado, cerca de mil litros de água por dia poderão ser utilizados na irrigação do jardim, vasos sanitários e outros fins não potáveis. O telhado verde com cisterna terá capacidade de armazenar ao menos 35 mil litros de água da chuva, além da água tratada.

“O sistema integrado cria uma condição diferenciada, permitindo retardar o descarte do excedente de água e também a infiltração controlada no terreno. Outro benefício é a reciclagem dos resíduos orgânicos, que vai reduzir a quantidade de lixo produzido no dia-a-dia”, observou Lamberto Ricarte, proprietário da residência sustentável.

A prioridade foi dispensar o uso de ar-condicionado com a cobertura verde, que proporcionará o conforto térmico interno desejado. “A ideia foi resolver dois grandes problemas: minimizar a alta temperatura relacionada ao clima de Brasília e a falta de água que temos para irrigação e lavagem externa no período de seca prolongada”, acrescentou Ricarte.

Outros estímulos

Mas o desenvolvimento da construção sustentável no Brasil não depende apenas das novas tecnologias, mas também do incentivo político.

Neste sentido, a Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados aprovou no início de junho uma proposta que permite a concessão de incentivos às edificações urbanas e aos parcelamentos do solo que utilizem tecnologias e padrões de construção ecologicamente sustentáveis.

O tipo de incentivo a ser concedido não foi previsto na proposta e deverá ser fixado em lei posterior, que pode inclusive ser municipal. O objetivo é alcançar transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental nas cidades. A matéria será enviada à sanção presidencial.

O deputado Walter Feldman defendeu a proposta. “Estamos quase repetindo uma experiência inglesa de fazer com que, no código de obras, nas atividades urbanísticas de construção, haja sempre a preocupação ambiental, com estímulos e incentivos para isso”, concluiu o deputado

Empresas contempladas