Conclusão é do novo Relatório Mundial sobre Drogas 2023, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Unodc; chefe da Seção de Investigação sobre Drogas, Chloe Carpentier, destaca que interesse em recursos naturais e pouca presença do Estado são principais razões para agravamento do problema.
O tráfico de drogas na Bacia Amazônica está aumentando outras atividades criminosas, como extração de madeira, mineração ilegal, ocupação irregular de terras e tráfico de animais selvagens e muito mais, prejudicando o meio ambiente da maior floresta tropical do mundo.
A informação é do novo Relatório Mundial sobre Drogas 2023, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Unodc, divulgado na véspera do Dia Internacional Contra o Abuso de Drogas e o Tráfico Ilícito, marcado neste 26 de junho.
Rotas de tráfico
A ONU News conversou com a chefe da Seção de Investigação sobre Drogas, Chloe Carpentier. De Viena, na Áustria, ela destacou que partes da Bacia Amazônica estão no cruzamento de múltiplas formas de crime organizado, que aceleram a devastação ambiental, com graves implicações para a segurança, saúde e bem-estar da população na região.
“Este ano, dedicamos um capítulo sobre a sobre o tráfico de drogas na Amazônia, o impacto sobre o meio ambiente e a intersecção desta droga com outras atividades que está a acelerar um impacto negativo sobre o meio ambiente e sobre comunidades que vivem lá, comunidade locais, incluindo populações indígenas. Então, sobre a Amazônia, oferecemos uma análise de quatro países: Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia. O que vimos é que a Amazônia está na intersecção de múltiplas formas de crime organizado, que aceleram a devastação e degradação do meio ambiente, com muitas implicações em termos de segurança pública, de saúde pública, mas também individual e outros impactos negativos sobre as populações.”
Chloe Carpentier explica que isso acontece porque, além da abundância de recursos naturais, “a região tem pouca presença do Estado, muita corrupção e uma economia baseada em informalidade”.
O Unodc também alerta que povos indígenas e outras minorias estão enfrentando as consequências de uma alta nos crimes. Eles ainda sofrem com envenenamento por mercúrio e exposição à violência. Ativistas ambientais também têm sido alvos de traficantes e grupos armados.
Crescimento no consumo
Os novos dados estimam que uma em cada 17 pessoas em todo o mundo usou um tipo de droga em 2021, 23% a mais do que na década anterior.
O número estimado de usuários cresceu de 240 milhões em 2011 para 296 milhões em 2021, o que significa 5,8% da população mundial entre 15 e 64 anos. Este é um aumento de 23%, em parte devido ao crescimento populacional.
Chloe Carpentier alerta que o número de pessoas injetando drogas também subiu, acompanhado da incidência de casos de hepatite C.
“Tudo isso é preocupante porque metade das pessoas que injetam drogas vivem com a hepatite C. A hepatite C é uma doença entre os consumidores de drogas, cada vez mais preocupante, que está relacionada à alta mortalidade. É preocupante que 86% das pessoas vivem em países, onde há pouco acesso à medicação para dor. Então, de um lado temos mais pessoas que abusam de drogas e do outro lado temos ainda muito poucas pessoas que têm o acesso que deveriam ter medicações contra dor.”
O Unodc aponta que o uso de drogas injetáveis continua a ser um importante fator facilitador da epidemia global de hepatite C. Segundo a OMS, 23% das novas infecções são atribuíveis à injeção de drogas.
Segundo dados das agências da ONU, metade das pessoas que injetam drogas vivem com hepatite C, um total de quase 6,6 milhões de pessoas.
O relatório revela que a estimativa global de pessoas que injetaram drogas em 2021 chegou a 13,2 milhões, 18% a mais que em 2020. Segundo o estudo, este aumento é puxado pelos dados disponíveis nos Estados Unidos e em alguns outros países.
Efeito nas mulheres e jovens
Chloe Carpentier também aponta que mulheres e jovens são grupos mais vulneráveis, de acordo com os dados, como no caso do uso de drogas, há 5 vezes mais homens injetando drogas. No entanto, as mulheres que injetam drogas têm 1,2 vezes mais probabilidade de viver com HIV.
Ela também alerta que os jovens são a maioria em tratamento por causa do uso de drogas. Na África, eles são 70% das pessoas buscando ajuda. A representante do Unodc destaca que o continente possui lacunas nos serviços, que além de pouco acessíveis, também não são sempre adequados.
Segundo relatório, estima-se que 39,5 milhões de pessoas em todo o mundo sofriam de transtornos por uso de drogas em 2021, mas apenas 1 em cada 5 pessoas recebeu tratamento medicamentoso.
O Unodc afirma que a pandemia de Covid-19 agravou a lacuna de tratamento. Dos 46 países que enviam dados sobre pessoas em tratamento de drogas, cerca de 40% registraram um declínio no número daquelas em tratamento medicamentoso durante a emergência de saúde em comparação com os anos anteriores.
Estigma e discriminação
Em mensagem para o Dia Internacional Contra o Abuso de Drogas e o Tráfico Ilícito, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirma que consumidores de drogas são duplamente vítimas: primeiro pelos efeitos nocivos das próprias drogas e, segundo, pelo estigma e discriminação que enfrentam.
Segundo ele, pessoas que consomem drogas enfrentam barreiras significativas no acesso aos tratamentos e até mesmo aos serviços de saúde de doenças infecciosas como o HIV/Aids e as hepatites.
O chefe das Nações Unidas lamenta que, enquanto isso, os traficantes de drogas continuem a se aproveitar de quem consome drogas, aumentando rapidamente a produção de drogas sintéticas perigosas e altamente viciantes.
Para a data, ele faz um apelo para que as pessoas sejam colocadas em primeiro lugar, acabando com o estigma, a discriminação e reforçando a prevenção. Guterres defende que mais apoio para reabilitação, em vez da punição e do encarceramento por delitos menores de drogas.