Em mensagem para o Dia Internacional de Conservação do Ecossistema de Mangue, celebrado nesta sexta-feira (26), a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, lembrou que esses ecossistemas são fundamentais tanto para comunidades de regiões costeiras — onde os manguezais são fonte de subsistência e proteção contra desastres naturais — quanto para o resto do mundo, que tem nos mangues um aliado contra o aquecimento global.
“Seus complexos sistemas de raízes aprisionam sedimentos, reduzem o fluxo da água e armazenam o carbono azul costeiro proveniente da atmosfera e do oceano”, disse Audrey.
O carbono azul é o gás carbônico que é armazenado pelos ecossistemas oceânicos e litorâneos, sendo absorvido da atmosfera e convertido em biomassa, encontrada nos seres vivos e no meio ambiente. Com essa captura de carbono, os mares e costas ajudam a regular o volume de gases do efeito estufa dispersos na atmosfera.
A chefe da UNESCO afirmou ainda que os manguezais “contribuem para a estabilidade do litoral, ao proteger os recifes de coral e prevenir a erosão causada por ondas e tempestades”.
No sul da Tailândia, os benefícios associados à proteção dos mangues contra temporais foram estimados em 10,8 mil dólares por hectare, de acordo com dados da Convenção da ONU sobre Zonas Úmidas. No estuário do rio Krabi, manguezais estão sendo recuperados e plantados para proteger comunidades litorâneas vulneráveis contra tempestades tropicais e também para contornar os impactos do aumento do nível do mar.
Segundo pesquisas coletadas pela convenção da ONU, a principal causa do desaparecimento dos mangues é a transformação desses ecossistemas em zonas agrícolas ou destinadas à aquicultura. Essa forma de destruição dos manguezais é observada principalmente no sudeste da Ásia.
A Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos aponta que em torno de 67% de todos os manguezais do mundo desapareceram ao longo do século passado, devido ao desenvolvimento das regiões costeiras, à aquicultura, à poluição e a outras atividades humanas.
“A proteção dos manguezais exige soluções científicas inovadoras e uma abordagem multidisciplinar, que abranja as ciências hídricas e ambientais, as geociências, a oceanografia e os sistemas de conhecimento locais e indígenas, todos presentes no trabalho desenvolvido pela UNESCO”, afirmou Audrey.
A dirigente lembrou que, por meio da criação de reservas da biosfera e sítios do patrimônio, a agência da ONU tem colocado diferentes áreas de mangue sob esforços de conservação. Entre os exemplos, estão a reserva da biosfera La Hotte, no Haiti, o geoparque global Langkawi, na Malásia, e o patrimônio mundial de Sundarbans, no Delta do Rio Ganges.
Estima-se que os manguezais ofereçam serviços ecossistêmicos avaliados em 1,6 bilhão de dólares por ano. Esses serviços incluem a oferta natural de animais capturados para consumo humano e a participação no equilíbrio ecológico de comunidades litorâneas.
“Os mangues são ecossistemas versáteis localizados em estuários tropicais, que formam o habitat de inúmeras espécies anfíbias e marinhas, fornecem atividades e produtos essenciais às comunidades humanas ao seu redor e preservam o meio ambiente e a biodiversidade”, enfatizou Audrey.
A chefe da UNESCO ressaltou ainda que a igualdade entre homens e mulheres é essencial para garantir a preservação dos manguezais.
“As mulheres desempenham um papel fundamental ao contribuir para o desenvolvimento local e comunitário na construção e na defesa de territórios, assim como na proteção e na transmissão de conhecimentos essenciais para reduzir a perda dos mangues. Integrar uma abordagem sensível ao gênero aos nossos esforços coletivos de conservação é a chave para a recuperação dos mangues”, completou a dirigente.