Causada por um vírus da família Flaviviridae, a Febre Amarela é uma doença de surtos que atinge, repentinamente, grupos de macacos e humanos. Não há razão para se matar os macacos, pois eles não oferecem risco à população, e sim eles nos alertam sobre a atuação do mosquito. Com risco de contaminação, áreas rurais, passaram a matar estes animais por receio de contágio, onde os seres humanos e os macacos são vítimas desta doença.
No ciclo silvestre da febre amarela, os macacos acolhem este vírus, mas os vetores, aqueles que causam e carregam o vírus e o transmite, é o mosquito, e nesse ciclo os seres humanos, se torna ocasionalmente outra vítima, entrando em áreas de mata, sendo picado pelo mosquito que carrega o vírus. E no ciclo urbano, quando prejudica as pessoas, onde o ser humano é o único hospedeiro. E assim, uma pessoa contaminada pelo mosquito, picam outras pessoas, gerando uma contaminação de grandes proporções.
O mosquito é o real transmissor da febre amarela, sendo o principal reservatório desta doença, e os macacos apenas hospedam o vírus na mata e os seres humanos nas cidades.
Os Macacos, são os reais indicadores da presença do vírus na região, gerando assim campanhas de vacinação nos seres humanos. Quando infectados e chegam à morte, são indicadores da circulação do vírus, mosquitos do gênero Haemagogus e Sabethes, ambos encontrados na zona da mata, circulando em copas das árvores, onde os macacos repousam, e quando infectados pelo mosquito, não é possível pegar a doença estando em contato com pessoas ou animais infectados, uma vez que a febre amarela não é uma doença contagiosa e que apresenta dois ciclos de transmissão:
*Febre Amarela Silvestre (FAS), ocorre nos macacos e os vetores transmissores são mosquitos silvestres, gêneros Haemagogus e Sabethes.
*Febre Amarela Urbana (FAV), ocorre nos seres humanos e tem como principal transmissor o Aedes Aegypti.
Doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus transmitido por mosquito, a Febre Amarela não é registrada em centros urbanos do Brasil desde a década de 1940, mas atualmente voltou à assustar os brasileiros com a proliferação da doença, um surto que acontece em todo o país e leva a população a se preocupar com a doença. Uma doença que se propaga rapidamente, atingindo macacos e humanos, onde os animais começam à morrer primeiro, se propagando em determinadas áreas, e a mortandade dos macacos nos envia um alerta. E nessas áreas de risco, poderia ter dado início mais cedo a campanha de vacinação, reduzindo assim à disseminação, e com a vacina temos a medida mais eficaz para combater a Febre Amarela.. E neste momento, o Brasil vive um desastre ambiental, uma das maiores mortandades de macacos da história da Mata Atlântica, em função da Febre Amarela e também de pessoas que cometem o crime de matar estes animais, acreditando que o macaco transmite a doença, eles representam apenas um alerta às autoridades quanto à incidência da doença em áreas silvestres, porque são vulneráveis ao vírus, e ajudam a elaborar ações de prevenção da doença em humanos, sendo mais grave nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, mas com registros em São Paulo, Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Qual o tratamento?
Segundo a Fiocruz, não há tratamento específico para a Febre Amarela. A vacinação continua sendo a principal medida de prevenção contra a doença, além do controle do vetor. Produzida pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), a imunização é oferecida gratuitamente no Calendário Nacional de Vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Como se prevenir?
A prevenção contra a febre amarela se dá pela proteção contra a picada de mosquitos com o uso de repelentes e roupas protetoras e com o uso da vacina. A vacina é altamente eficaz e segura nos grupos indicados. Crianças abaixo de 6 meses, gestantes e idosos acima de 65 anos, bem como indivíduos em tratamento ou com condições que levem a depressão da imunidade, não devem tomar a vacina ao menos que haja recomendação explícita do médico.
Degradação Ambiental e a tragédia de Mariana podem estar relacionadas ao surto de Febre Amarela
Um grupo de especialistas de diferentes estados do Brasil estão se articulando para investigar a relação entre o surto de Febre Amarela e a degradação do Meio Ambiente. Eles acreditam que se houvesse mais conhecimento sobre o assunto, a propagação repentina do vírus de tempos em tempos poderia ser prevenida. As razões deste comportamento da doença ainda não são bem conhecidas, mas os especialistas dão como certa a influência do Meio Ambiente, segundo Sérgio Lucena, primatólogo e professor de zoologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o surto de Febre Amarela é um fenômeno ecológico. Sérgio Lucena explica que o vírus da Febre Amarela está estabelecido em algumas matas e regiões silvestres com baixa ocorrência. De repente, por algum motivo ainda a ser desvendado, ele se propaga rapidamente, atingindo macacos e humanos. Os animais começam a morrer primeiro. “São sentinelas. Se o vírus começa a se propagar em determinada área, a morte dos macacos nos enviará um alerta”, explica.
O Brasil poderia ter um sistema bem articulado para se antecipar aos surtos, mas não há investimentos neste sentido. Se houvesse mais conhecimento, Minas Gerais poderia, por exemplo, ter dado início mais cedo à campanha de vacinação nos municípios da área de risco, reduzindo a disseminação da doença. A vacina é a principal medida de combate à Febre Amarela. Especialistas que estudam a Febre Amarela sob a ótica do ecossistema se reuniram em Belo Horizonte em um seminário organizado pela Fundação Renova, ligada à mineradora Samarco. Na ocasião, eles fizeram uma revisão de tudo o que se sabe até o momento acerca do tema, com o objetivo de dar um primeiro passo para mudar o panorama.
Uma das hipóteses dos pesquisadores é que o desmatamento ao longo dos anos deixou as espécies de macacos em fragmentos muito pequenos de florestas, o que traz diversos desdobramentos. “Sistemas ecológicos empobrecidos podem favorecer o crescimento das populações de mosquitos. Mosquitos infectados encontrando populações grandes de macacos em pedaços de mata atlântica isolados podem ser a origem destes surtos”, alerta Sérgio Lucena.
Casos da doença foram registrados em cidades alvos da tragédia em Mariana
O rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana, Minas Gerais, pode ser um dos fatores que levaram ao surto de Febre Amarela pela região sudeste do Brasil. O acidente ocorreu em 5 de novembro de 2015 e, quando 55 milhões de M³ de lama vazaram da barragem de Fundão após seu rompimento, matando pessoas, poluindo e contaminando recursos hídricos de importantes rios e afluentes da região, afetando milhares de ribeirinhos que vivem e dependem da água e das terras da Bacia do Rio Doce. E essa relação apontada pela Bióloga da Instituição Fio Cruz Márcia Chame, se comprova, já por dados da região uma vez que grande parte das cidades mineiras que identificam casos de pessoas com sintomas da doença, estão na região próxima ao Rio Doce, local onde a barragem foi rompida, aniquilando a fauna e flora, como peixes e sapos, que se alimentam das larvas dos mosquitos e até mesmo os pássaros e morcegos, acabando com inimigos naturais dos mosquitos transmissores dessa doença.
Expandindo toda a destruição para as populações de várias regiões irrigadas pelo Rio Doce e atingindo outros estados e suas populações, uma catástrofe socioambiental na história do Brasil e uma das maiores geradas pela mineração no mundo.
Mas a falta de investimentos em áreas de saneamento básico e saúde, os imensos desmatamentos em florestas brasileiras, a poluição dos rios, e crimes como da mineradora Samarco, que atingiu vários estados brasileiros e que matou dezenas de pessoas diretamente, e que destruiu a fauna, terrestre e aquática são as causas da epidemia de Febre Amarela que se alastra por vários estados do país.
A morte destes macacos, nada mais é, do que uma prenuncia da epidemia nos humanos, onde ambientes naturais, estão sendo destruídos, pois no passado a doença era mantido na floresta, mas com a degradação do Meio Ambiente, animais ficam mais próximos dos humanos, elevando-se os riscos de contaminação, e por sua vez com o desmatamento, animais se deslocam, aumentando a transmissão.
De acordo com ambientalistas, o desmatamento ao longo dos anos deixou as espécies de macacos em fragmentos muito pequenos de florestas, o que traz diversos desdobramentos. Evidências científicas também dão a entender que florestas saudáveis, com elevada biodiversidade, dificultariam a proliferação dos vírus. Embora o surto não deixe de ocorrer, sua intensidade pode ser menor em um Meio Ambiente preservado.
Para eles, uma floresta onde há maior disponibilidade de frutos e sombras e onde não há poluição faz com que os macacos se desenvolvam mais saudáveis e sem estresses, com um sistema imunológico mais eficiente, oferecendo mais resistência à doença. Enquanto isso, a doença se avança matando centenas de pessoas no país, onde sistemas ecológicos, estão empobrecidos e favorecidos para a proliferação de mosquitos.
Espécies ameaçadas
Estimativa dos órgãos de proteção ambiental é que existam no mundo cerca de 500 espécies de primatas e, de forma assustadora, 60% delas correm risco de extinção. Dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) mostram que somos o país com o maior número de espécies conhecidas – 139 tipos de primatas brasileiros. O problema é que 35 destas espécies estão ameaçadas. Se não bastasse a ação indireta do homem na extinção dos macacos, com a expansão as áraes urbanas e a destruição das florestas, a caça e o abate também são fatores de riscos para os animais, especialmente quando surgem surtos ou epidemias de febre amarela.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, no final de 2017, o avanço da doença causou a morte de todos os macacos do horto florestal da capital paulista, além do o fechamento de vários parques. De acordo com Sérgio Lucena Mendes, especialista em primatas e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), o desenvolvimento da febre amarela se torna mais propício pela redução das áreas silvestres e o consequente avanço das cidades. Quando adicionamos outros fatores, como mudança climática, por exemplo, a equação se torna ainda mais complicada. "É preciso ver o surto com um olhar ecológico, além da preocupação com a saúde humana. Para controlar a febre amarela é preciso, necessariamente, preservar os habitats naturais e suas espécies nativas. Desflorestar e matar macacos não impede a circulação do vírus da doença e pode até piorar a situação", alerta o especialista.
A proximidade cada vez maior das áreas urbanas e as florestas facilita a disseminação da doença, que é letal para os primatas e dizimou espécies nas regiões sudeste, nordeste e norte, segundo informação da RECN. "A saúde humana está intimamente relacionada à saúde do Meio Ambiente. O controle da Febre Amarela inclui, necessariamente, a preservação dos habitats naturais e suas espécies nativas. Com as temperaturas altas, a doença volta a ter as mesmas consequências que vimos no início do ano passado", esclarece Sérgio Mendes.
Com a falta de vacinação, uma tragédia muito maior pode ocorrer, uma vez que o mosquito transmissor da dengue, da chikungunya e da zika, o famigerado Aedes aegypti, também pode ser o vetor da Febre Amarela nas áreas urbanas, potencializando os riscos. Portanto, a preservação do Meio Ambiente é essencial para a conservação destes macacos, que é de fato, imprescindível para a prevenção da Febre Amarela.