• 11 de junho de 2013
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Um dia que não existiu

No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho, deveríamos celebrar a riqueza que o país tem em florestas, rios e fauna. Mas o vento que sopra do Planalto não é o mais promissor.

A presidente Dilma e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, tentaram montar um circo para transformar notícias velhas em propaganda do governo. É como se o Dia Mundial do Meio Ambiente não existisse para elas. E, se levarmos em considerações as últimas ações e falas desse governo, ela não existe mesmo.

Elas mostraram – de novo – uma queda histórica no desmatamento da Amazônia, que deve ser comemorada, mas que reflete uma situação atrasada (4.571 km2 entre agosto de 2011 e julho de 2012). Desde então, sinais de aumento do desmatamento surgem a toda hora, inclusive vindos do próprio governo por meio de seu sistema Deter. Sobre isso, ninguém falou nada.

Dilma discursou sobre planos estruturantes para a Amazônia que unam combate à derrubada a ações de estímulo ao desenvolvimento preservando a floresta. A fala cheira a ilusão para quem acompanha as últimas notícias da região: indígenas com direitos contestados; o Ibama com poder de fiscalização desidratado; um Código Florestal que beneficia e premia quem passa o trator sobre a floresta; projetos de infraestrutura, notadamente grandes hidrelétricas, planejadas e construídas sem que premissas socioambientais sejam seguidas.

“Até alguns anos atrás, o Planalto usava o Dia Mundial do Meio Ambiente para dar boas notícias concretas, como demarcação de novas unidades de conservação e políticas de apoio a terras indígenas e ao desenvolvimento sustentável. Mas o que vimos hoje foi o governo agindo fora do contexto real do campo, como se estivesse num mundo de Alice, do outro lado do espelho, em que a realidade é distorcida”, afirma Renata Camargo, assessora política do Greenpeace.

“Os brasileiros esperam e merecem mais. É possível acabar com o desmatamento, controlar a emissão de gases-estufa, acabar com a violência e o trabalho escravo no campo e crescer com respeito ao ambiente.”

Por fora, bela viola

O Planalto também tentou usar a Política Nacional de Mudanças do Clima, feito para controlar as emissões brasileiras de gases-estufa, para inflar o evento. O governo anunciou a divulgação de cinco planos setoriais que, na prática, deveriam ter sido anunciados há quase um ano.

“O governo tentou dourar a pílula do aumento de emissões de gases-estufa em alguns setores comemorando uma queda geral, e usou cálculos áridos da política para esconder o tamanho do desafio”, afirmou Camargo. A verdade é que as emissões gerais caíram porque o desmatamento na Amazônia caiu, e metas estabelecidas para o desmatamento do Cerrado, por exemplo, foram construídas de forma a serem facilmente atingidas.

Divulgando a estimativa de emissões referente ao período de 2005 a 2010, há um dado de alerta: apesar da queda do desmatamento, as emissões dos demais setores estão em crescimento. O setor de energia, por exemplo, aumentou em 21,5% as emissões no período referido. O aumento do uso do petróleo, especialmente no setor de transporte, e a volta de fontes sujas de energia como o carvão nos leilões elétricos indicam que esse aumento só está começando.

Dilma ainda tentou criar um falso dilema, mostrando térmicas e hidrelétricas com grandes barragens como as únicas fontes possíveis de geração de energia no futuro. Esqueceu de propósito o potencial inexplorado no país de fontes solar, eólica e da biomassa.

O Brasil tem a chance de realmente dar o exemplo para o mundo não só voltado para o passado. Há, no entanto, uma preferência em fechar os olhos e criar um conto de fadas, em vez de enfrentar abertamente o desafio de crescer preservando o ambiente. É preciso respeitar os direitos humanos, os povos indígenas, as comunidades tradicionais, ao mesmo tempo em que se busca a conservação das florestas e o controle do aquecimento global.

Empresas contempladas