União Europeia pressiona países emergentes na COP17
Bloco insiste que as nações em desenvolvimento devem assumir metas formais de reduções de emissões e afirma que a sua prioridade na conferência é garantir o início do funcionamento do Fundo Climático Verde
A União Europeia (UE) parece estar disposta a fazer as negociações caminharem na Conferência das Partes de Durban (COP17), de um jeito ou de outro. Em sua coletiva de imprensa nesta quarta-feira (30), o bloco afirmou que não há mais como os grandes emissores ficarem sem metas e também que está na hora de tirar os compromissos firmados em Cancún (COP16) do papel, principalmente o Fundo Climático Verde.
Assim, os negociadores europeus estão orientados a cobrar as promessas feitas pelos países no passado e não aceitar que apenas a UE seja penalizada por adotar sozinha ações climáticas.
“É muito importante que as maiores economias se juntem ao esforço de mitigar as mudanças climáticas. Não há nenhum sentido em um segundo período de compromissos do Protocolo de Quioto se a UE for a única signatária”, afirmou Joanna Mackowiak-Pandera, da delegação europeia.
Como Estados Unidos, Japão, Rússia e Canadá já decidiram que não tem interesse em estender Quioto, está cabendo a UE debater com os países em desenvolvimento o futuro do Protocolo.
A China propôs que as nações ricas assumam metas obrigatórias, enquanto as mais pobres e as emergentes possuam planos voluntários ou com força de lei apenas em nível nacional. Essa proposta é apoiada pelo BASIC, que reúne, além da China, Brasil, África do Sul e Índia.
Porém, a UE espera muito mais dos grandes países em desenvolvimento. O bloco deseja que o segundo período de compromissos de Quioto contemple metas obrigatórias para todos os signatários.
“Claro que nações diferentes podem ter metas diferentes, mas todos deveriam ter objetivos a cumprir. Compromissos apenas nacionais podem ser facilmente alterados posteriormente, assim, na nossa visão, um acordo climático só será eficiente se feito em nível internacional”, disse Joanna.
Financiamento
Também na coletiva de imprensa da União Europeia, o negociador chefe do bloco, Tomasz Chruszczow, afirmou que colocar o Fundo Climático Verde em funcionamento é a sua prioridade na COP17.
“No contexto de um resultado positivo para a conferência, é indispensável que as negociações garantam que o Fundo esteja em operação já em 2012”, declarou Chruszczow.
As discussões sobre o financiamento devem aquecer nos próximos dias, depois da apresentação do relatório do comitê internacional designado para formular sugestões de como o Fundo deve ser formado e administrado.
“Acreditamos que o comitê trará algumas boas propostas que podem facilitar não apenas as negociações sobre o Fundo, mas também sobre transferência de tecnologias. O financiamento climático é uma peça fundamental para as ações internacionais de mitigação e adaptação ao aquecimento global”, afirmou Chruszczow.
A União Europeia deve se comprometer ainda em Durban a liberar € 7,2 bilhões para o Fundo Climático Verde.
EUA, o vilão da COP?
Quem também mereceu destaque nesta quarta-feira foram os Estados Unidos, que estão consolidando a impressão de serem a delegação mais intransigente da COP17.
Tanto que um grupo de organizações ambientais enviou uma carta para a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmando que os negociadores do país não estariam atuando conforme as promessas de campanha do presidente Barack Obama.
Segundo o documento, os EUA podem se transformar no grande obstáculo da conferência por fazer objeções a questões chave, como o financiamento climático e o Protocolo de Quioto.
Os signatários da carta, que inclui o Sierra Club – maior entidade ambiental dos EUA - e a União dos Cientistas Preocupados, acusam a delegação norte-americana de não estar sendo fiel aos ideais de desenvolvimento sustentável e da economia de baixo carbono tão defendidos por Obama na campanha presidencial de 2008.
“Apenas três anos se passaram e os EUA estão correndo o risco de deixar de serem vistos como um líder global para se tornar um grande obstáculo na mitigação das mudanças climáticas. As posições norte-americanas ameaçam impedir qualquer tipo de progresso em Durban. Pedimos que o governo oriente seus negociadores para serem muito mais flexíveis”, pede a carta.
Autor: Fabiano Ávila