• 27 de outubro de 2011
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Uso da água cresce mais do que população mundial

Como o petróleo no século XX, a água poderia muito bem ser a commodity essencial na qual o mundo se concentrará.

Os seres humanos dependem do acesso à água desde os primeiros dias da civilização, mas com sete bilhões de pessoas no planeta em 31 de outubro, a urbanização e o desenvolvimento em expansão exponencial estão aumentando a demanda como nunca.

O uso da água tem crescido mais do que o dobro da taxa de crescimento da população no último século, disse Kirsty Jenkinson, do Instituto de Recursos Mundiais, um grupo de pesquisas de Washington.

Prevê-se que o uso da água deve aumentar até 50% entre 2007 e 2025 nos países em desenvolvimento e 18% nos desenvolvidos, e grande parte da crescente utilização nos países mais pobres será por causa do aumento do deslocamento de pessoas de áreas rurais para as cidades, afirmou Jenkinson em uma entrevista por telefone.

Junte isso aos impactos das mudanças climáticas esperados para esse século – mais enchentes e secas severas e mudanças nos padrões de precipitação anteriores – que provavelmente atingirão primeiro e mais gravemente as pessoas mais pobres “e temos um desafio significativo em nossas mãos”, declarou Jenkinson.

Haverá água para todos, especialmente se a população continuar a crescer, como previsto, para nove bilhões até a metade do século?

“Há muita água na Terra, então provavelmente não ficaremos sem”, disse Rob Renner, diretor executivo da Fundação de Pesquisa da Água de Colorado.

“O problema é que 97,5% dela é salgada e... dos 2,5% que é doce, dois terços estão congelados. Então não há muita água doce para administrar no mundo”.

PONTOS CRÍTICOS DE RISCO DE ÁGUA

Mais de um bilhão de pessoas não tem acesso a água limpa para beber, e mais de dois bilhões vivem sem saneamento adequado, levando a mortes de mais de cinco milhões de pessoas, principalmente crianças, a cada ano, por doenças transmitidas pela água evitáveis, afirmou Renner.

Apenas 8% do fornecimento de água doce do planeta vai para uso doméstico; cerca de 70% é usado para irrigação e 22% na indústria, declarou Jenkinson.

Secas e chuvas insuficientes contribuem para o que é conhecido como risco de água, junto com enchentes e contaminações.

Pontos críticos de risco de água, como relatados no atlas online do Instituto de Recursos Mundiais, incluem:

- Bacia Murray-Darling na Austrália;

- Bacia do Rio Colorado no sudoeste dos EUA;

- Bacia Orange-Senqu, que cobre partes da África do Sul, Botsuana e Namíbia e todo o Lesoto;

- Bacias dos rios Yangtze e Amarelo na China.

O que é necessário, disse Jenkinson, é um manejo integrado de recursos hídricos que leve em consideração quem precisa de que tipo de água, assim como onde e como usá-la mais eficientemente.

“A água vai se tornar rapidamente um fator limitante em nossas vidas”, afirmou Ralph Eberts, vice-presidente executivo da Black & Veatch, empresa de engenharia de US$ 2,3 bilhões que projeta sistemas hídricos e opera em mais de 100 países.

Ele declarou que vê uma “redefinição de prioridades” dos recursos para enfrentar os desafios hídricos impostos pelas mudanças climáticas e pela crescente urbanização.

A companhia de Eberts não está sozinha. A escassez de água e o estresse hídrico – que ocorre quando a demanda por água excede o fornecimento ou quando a baixa qualidade restringe o uso – já atingiram companhias de uso intensivo da água e cadeias de suprimento na Rússia, China e no sul dos Estados Unidos.

INVESTIDORES TOMAM NOTA

Ao mesmo tempo, enchentes extremas têm impactos econômicos severos na Austrália, Paquistão e no meio-oeste dos EUA, de acordo com a Ceres, uma coalizão de grandes investidores e grupos ambientais que colocaram o risco de água como um assunto que as empresas do século 21 terão que resolver.

“A centralidade da água doce para nossas necessidades de alimento, para o combustível, está tomando o papel central no que se tornou um mundo lotado e ambientalmente tenso”, disse a presidente da Ceres Mindy Lubber.

Uma base de dados da Ceres permite que investidores institucionais saibam quais companhias estão combatendo o risco de água. A Nestlé e a Rio Tinto foram vistas como as líderes neste sentido.

O risco de água já está afetando os negócios da fabricante de roupas The Gap, que cortou sua previsão de lucro em 22% após uma seca reduzir as colheitas de algodão no Texas.

Similarmente, a produtora independente de gás Toreador Resources viu o preço de suas ações cair 20% depois que a França baniu o fraturamento de gás de xisto, principalmente por causa das preocupações a respeito da qualidade da água.

As gigantes de alimentos Kraft Foods Inc, Sara Lee Corp e Nestlé anunciaram um aumento planejado de preços para compensar os custos mais altos das commodities causados por secas, enchentes e outros fatores.

O risco de água é mais do que uma preocupação corporativa. Para grupos internacionais de ajuda, impõe um risco de desastre para aqueles que ficam no caminho das secas ou aumenta a incerteza a respeito dos fornecimentos de água.

Na África Oriental, por exemplo, as mudanças climáticas podem trazer alterações na temperatura e nas precipitações, que diminuiriam a estação de colheitas e reduziriam o rendimento de alimentos básicos como o milho e o feijão, atingindo pequenos agricultores e pastores mais gravemente, de acordo com um relatório da Oxfam.

Mas uma análise cientifica de 30 países chamada Programa de Desafio em Água e Alimentação indica que há esperança. A pesquisa descobriu que bacias hidrográficas importantes na África, Ásia e América Latina poderiam dobrar a produção de alimentos nas próximas décadas se os habitantes das partes altas dos rios trabalharem com os das partes baixas para usar eficientemente a água que têm.

Traduzido por Jéssica Lipinski

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