• 17 de novembro de 2011
  • JORNAL DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Água é desafio na Amazônia internacional

Região formada por nove países guarda a maior reserva do planeta, mas não oferece água de qualidade

Com mais de 40% dos seus 7,8 milhões de quilômetros quadrados já protegidos na forma de unidades de conservação ou territórios indígenas, a Amazônia guarda a maior reserva de água doce do planeta, mas não oferece água de qualidade para parte de seus 34 milhões de habitantes.


O quadro paradoxal da sustentabilidade ambiental da floresta é traçado por estudo com informações dos nove países que abrigam a Amazônia. As razões para pensar a Amazônia além das fronteiras dos países são várias: do impacto de investimentos crescentes em energia e infraestrutura ao avanço da exploração de commodities e a conservação das nascentes dos principais rios, que ficam fora do Brasil.

Entre as metas dos Objetivos do Milênio estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para 2015, a queda do desmatamento aparece entre as que podem ser alcançadas nos próximos quatro anos. Dono de mais da metade (64,3%) do território da Amazônia, o Brasil contribui com 71,8% do desmate da floresta. E puxa a contabilidade total para baixo, com a redução das taxas oficiais obtidas nos dois últimos anos, ainda que as pressões não tenham sido superadas.

Mas o estudo coordenado pelo Fórum Amazônia Sustentável e pela Articulação Regional da Amazônia aponta um conjunto maior de metas que dificilmente serão alcançadas, a começar pelo objetivo número um da ONU, que cuida de reduzir a pobreza extrema pela metade.

O estudo, divulgado ontem no Congresso sobre Cenários e Perspectivas para a Pan-Amazônia, em Belém, indica que 42% da população da Amazônia brasileira vive abaixo da linha da pobreza. Para isso, considerou renda superior aos programas de erradicação da pobreza extrema e Bolsa-Família, que tratam como indigente a família com renda abaixo de R$ 70 mensais por pessoa.

A situação, baseada em dados oficiais disponíveis, é bem melhor que a da Bolívia, país com o pior desempenho no combate à pobreza no grupo. Considerada uma renda mínima de US$ 0,75 por dia, a Amazônia boliviana teria 60% de seus habitantes abaixo da linha da pobreza. Apenas a Venezuela conseguiu cumprir o compromisso de reduzir à metade o porcentual da população sob pobreza extrema.

Todos os países da região com dados sobre educação disponíveis têm deficiências. O acesso à escola aumentou, assim como o tempo de estudo, mas ainda é alta a taxa de analfabetismo na população com 15 anos ou mais. No Brasil, o porcentual de analfabetos nessa faixa de idade é de 11%; na Bolívia, alcança 17%.

Na saúde, cresceu o índice de mortalidade materna, deixando a realidade mais distante dos objetivos do milênio com os quais os países se comprometeram.

O estudo aponta a criação de áreas protegidas e territórios indígenas como a ação mais eficiente para conter o desmate na Amazônia, ainda que essas áreas não estejam imunes às motosserras. De acordo com a contabilidade apresentada, 41,56% da Amazônia estaria sob diferentes graus de proteção - de estações ecológicas a parques nacionais e reservas extrativistas. O porcentual inclui as reservas indígenas.

Ao todo, seriam 3,2 milhões de km2 de floresta nessa condição. Embora o País tenha, sozinho, quase 2 milhões de km2 protegidos, o porcentual é menor que o de países como Venezuela, Colômbia e Bolívia. Como no Brasil, a expansão da fronteira do agronegócio é apontada como a principal causa de desmate.

As condições de abastecimento de água e saneamento básico - prioridades da ONU - são consideradas "precárias". Na Amazônia brasileira, o abastecimento de água é adequado para 66% da população. O saneamento alcançaria pouco mais da metade (51%) da população. A situação é um pouco melhor que a média da região, onde menos de 10% têm acesso a rede de esgoto.

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